A corrida presidencial está mais parecendo aquela corrida maluca dos desenhos animados do Hanna Barbera, cada concorrente às voltas com obstáculos criados por seus próprios problemas. Agora chegou a vez do governador de São Paulo Geraldo Alckmin, que teve um inquérito contra si pedido pela Procuradoria-Geral da República ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), que é o foro especial de governadores para crimes comuns.
O processo diz respeito às acusações feitas por delatores da empreiteira Odebrecht, que acusam o governador de São Paulo de ter recebido R$ 10,7 milhões repassados pelo setor de propinas da empreiteira, com a ajuda de seu cunhado, Adhemar César Ribeiro. O inquérito corre em segredo de Justiça, com Nancy Andrighi como relatora.
Há poucos dias, em evento promovido pelo Globo, o governador Alckmin foi confrontado com essa possibilidade, que já se antevia, e garantiu que não se considera passível de prejuízo em seu desejo de se candidatar à presidência da República. Garantiu que já há indicações de que não é ele o “Santo” indicado nas planilhas da Odebrecht como destinatário de dinheiro de caixa 2, e defendeu que tudo seja investigado.
Agora que se concretizou o pedido de abertura de inquérito ao STJ, Alckmin terá que correr contra o tempo para que a decisão não interfira na disposição de disputar a presidência. O governador de São Paulo, embora tenha um cacife eleitoral respeitável, pois em 2014 o candidato do PSDB Aécio Neves saiu do Estado com 7 milhões de votos à frente de Dilma, passará a ser mais um envolvido em denúncias.
Além do mais, Alckmin está alinhado ao grupo tucano que defende um afastamento do governo Temer, enquanto seu ex-protegido, o prefeito João Dória, posiciona-se na ala governista do partido. Com a possibilidade de haver uma ampla coligação partidária alinhando todos os partidos da base governista em torno de uma candidatura à presidência, Alckmin ficaria isolado na oposição caso não se reaproxime de Temer.
A possibilidade de a coligação governista ter um candidato único, que poderia ser ou o ministro da Fazenda Henrique Meirelles, do PSD, ou o presidente da Câmara Rodrigo Maia, do DEM, ou o prefeito João Dória, do PSDB, com um amplo tempo de propaganda eleitoral no rádio e televisão, está baseada na hipótese de que a economia melhorará no próximo ano a ponto de ser um trunfo de um governo atualmente dos mais impopulares na disputa ou com o ex-presidente Lula ou com Jair Bolsonaro.
A esperança nessa melhora da economia é tamanha que já existe quem considere que o próprio Temer seria o melhor candidato da aliança governista. Nesse ambiente, e sem ter destaque maior nas pesquisas eleitorais, o governador Geraldo Alckmin estaria em desvantagem até mesmo em relação a Dória, que tem maior capacidade de atuação nas redes sociais e na televisão.
Alckmin encontra ainda um empecilho para montar uma coligação que apóie sua candidatura, pois até mesmo o PSB, de seu vice Marcio França, tem um grupo que prefere apoiar a candidatura de Lula caso o ministro aposentado do STF Joaquim Barbosa não queira se candidatar à presidência.
A candidatura de Geraldo Alckmin representaria um ponto de equilíbrio entre os extremos ocupados por Lula e Bolsonaro, que no momento polarizam a disputa. Caso Lula não possa disputar devido à Lei da Ficha Limpa, depois de uma eventual condenação pelo TRF-4 de Porto Alegre, o governador paulista poderia surgir como uma solução para o eleitorado de centro-direita que no momento tende a apoiar Bolsonaro.
A característica de ser anti-Lula perderia a força, e ganharia uma candidatura que representasse o centro político, como se pretende Alckmin. Mas agora ele tem mais esse obstáculo a superar nessa corrida maluca em que se transformou a disputa presidencial em 2018.