Um escritor que gosto muito, Georges Pérec, era grande fazedor de listas. Eu me identifico. Só que as listas dele eram literatura e as minhas, mania. E tenho outro problema, faço listas de tudo e quando me pedem uma, travo. Sempre recebo mensagens pedindo dicas de Paris. Vou tentar responder às mais recorrentes, embora não tenha conseguido organizá-las.
A primeira é “como lidar com os franceses?”, que seriam desagradáveis, impacientes e monoglotas. Discordo. Um lugar em que o motorista do ônibus te cumprimenta e jovens cedem lugar no metrô me parece longe de ser reprovável. Mas a resposta é simples, diga bonjour. Sem bonjour não tem Paris, nada funciona, ninguém vai te olhar.
A segunda é sobre vinhos, claro. Onde comprar? Respondo onde compro, nas lojas Caves Augé, Legrand (onde a Ana Dani, que é brasileira, organiza degustações) e no cavista da esquina de onde eu estiver. Mas para o turista com pressa digo: Lavinia. É estilo pegou-pagou e fazem boas embalagens para viagem. Cartão de crédito fala qualquer língua.
“Que garrafas devo levar para casa?” Minha resposta, com ou sem bonjour, é meio grosseira: nenhuma. Beba em Paris, aproveite, garrafa pesa demais, quebra, é um pesadelo, não vale a pena, mesmo com os preços atraentes. Se quiser muito, não tendo como escapar do presente para os amigos da confraria, leve vinhos que não estão no Brasil. Tem tantas regiões e produtores que nunca ouvimos falar, para que comprar vinhos conhecidos?
Vinho conecta com a “onde eu como bem?” Se o pedido é pelos meus endereços “secretos”, são dois. O velho e querido bistrô Le Bougainville, na rue de la Banque, onde vou faz uma década, no mínimo. Toda vez que levei alguém lá foi uma decepção para os alguéns. As pessoas acham que um bon vivant come só no Alain Ducasse. É meu favorito por ter uma regularidade impecável, a comida sempre está no jeito. E, por ser simplão, pé-sujo, entra, senta, escolhe na lousa os pratos do dia, que são pesados, língua, miúdos, terrine de campagne pedaçuda, sem frufru. E os vinhos são os da casa, servidos em taça, bons vinhos do Jura, sem pedigree, rótulo, safra. É o equivalente do prato feito no boteco de confiança.
O outro se chama “A Jean Nicot”. É para comer croque monsieur, aquele misto-quente espalhafatoso, com molho bechamel e queijo gruyère por cima. É delicioso, barato, igualmente simples. É um tabac, coisa que não tem equivalente no Brasil, você está lá comendo seu croque com uma taça de Bordeaux anônimo e entra gente para comprar loteria, recarga de celular, maço de cigarro, ou tomar um trago.
A Paris de todo dia, do meu cotidiano de férias, é esta.