Vendo a foto de Lula sorridente entre Renan Calheiros e o filho, como se fossem velhos amigos, e lendo dias depois o relato da briga de Aécio Neves com seu companheiro Tasso Jereissati, a quem destituiu do comando interino do partido e foi por este acusado de apoiar o “fisiologismo do governo Temer” (o vice na chapa de Dilma que em 2014 derrotou o então candidato do PSDB, que é o mesmo gravado por Joesley Batista, dono do frigorífico
JBS, pedindo R$ 2 milhões, dá pra entender?), a gente se dá conta de quanto a velha prática política, independentemente de siglas, é responsável pelos nossos tempos de cólera.
Os efeitos visíveis são a intolerância e o ódio rompendo relações, abalando ligações familiares e criando um embate na sociedade manipulado por lideranças, em que os desafetos políticos de ontem são os afetos de hoje e viceversa
Em algumas famílias o assunto teve que ser proibido na mesa do jantar. Conheço o caso de uma amizade de mais de meio século que só não se rompeu definitivamente porque uma das partes alegou, para mantê-la, que não teria tempo para construir outra com a mesma duração.
Deixei de ser ingênuo o bastante para saber que não é de agora que em política só há interesses, às vezes até legítimos.
Nesse jogo, a negociação é inevitável, e as divergências são naturais numa democracia. O problema é o que se negocia, é a transgressão dos limites éticos, é o toma lá dá cá, o troca-troca a qualquer preço, literalmente — como, por exemplo, aconteceu para que o presidente Temer conseguisse se livrar na Câmara dos Deputados da segunda denúncia, para só citar esta, por obstrução da Justiça e organização criminosa.
O nível das transações foi dado pela predominância da linguagem usada, mais própria de outras páginas. Falava-se nos bastidores em compra e venda de votos, chantagem, dívidas, pagamentos, como se os nossos representantes estivessem numa feira.
Como a campanha para as eleições do ano que vem já começou, a nova moda deverá ser a “reconciliação”, inaugurada por Lula com sua declaração de que “perdoa os golpistas”. Seria até louvável, se esses impulsos de reatamento, de “fazer as pazes”, fossem sinceros, edificantes, motivados por sentimentos legítimos, e não gestos de oportunismo de précandidatos em busca de apoios — novos e os que foram perdidos.
O perigo é os inocentes continuarem brigando entre si por aqueles políticos que no final se entendem e se desentendem conforme suas próprias conveniências. Eles não valem a briga.