O corno é, antes de tudo, filho de corno e amigo de outro. Onde a primeira consubstancial verdade: ser corno é hereditário e contagiante.
Que vem a ser homem adequado? A mulher é bonita, moça, rica, filhos sadios que ganham medalhas em exposições de puericultura, como os touros recebem faixas nas de pecuária. Tem amantes à vontade –é o próprio marido que lhe reconhece a capacidade– e eis a questão: o que será um homem adequado a semelhante mulher? O marido não fora adequado apesar do muito que se amaram, das oportunidades, das viagens ao redor do mundo. O que a mulher procurava e exigia era um homem adequado.
Homem adequado deve ser isso: um vice-marido. Um homem que aceite ser concubino de determinada mulher, se submeta à hierarquia humildemente, sabendo que ocupa na vida da mulher um lugar mais burocrático que romântico.
As causas mais comuns à briga entre dois amantes estão aí: o homem entra com sua fúria inicial, quer a mulher todos os dias, a todas as horas. A mulher não quer perder nem o amante nem o marido, encontra dificuldade em colocar o amante no ritmo a que se impôs, dentro de sua adequação, isso se não cansar antes. O homem, se cansar, vai procurar outra, e a mulher sabe disso.
Surge então a necessidade do vice-marido. E ao dizer vice-marido entenda-se tudo o que deve ser um marido pela metade, inclusive no sadio tédio que deve inspirar a uma mulher honesta. Bem, a mulher desonesta ou será imbecil e nunca terá amante, ou será esperta demais e quererá ter todos.
Sobra esta pouca verdade: a mulher inspira bons poemas e péssimas filosofias –basta atentar a isso de homem adequado. E, encontrado tal espécime, não desejará outra coisa se não ter paz de espírito e de carne para, à noite, botar a cabeça no travesseiro e dormir sossegada.