Durante os oito anos do governo de Fernando Henrique Cardoso, acredito que o tenha criticado duas ou três vezes por semana. Cheguei a escrever, com ilustrações de Angeli, editado pela Boitempo, um libelo intitulado "O Presidente que Sabia Javanês".
Mudando de editora, suprimi esse livro de minha obra, não só pela virulência da linguagem como por atitudes que FHC tomou durante o seu mandato, inclusive a da reeleição.
O tempo passou, FHC passou e eu também passei. Candidato a uma vaga na Academia Brasileira de Letras, tive o prazer de votar nele e dele tive o prazer de ouvir o melhor discurso sobre Joaquim Nabuco, que elogiei fartamente aqui neste canto de página.
Não votaria nele para síndico do meu prédio, mas reconheço nele um dos melhores presidentes que o Brasil já teve. Na última semana, embora de uma família de militares, FHC elogiou o silêncio das tropas, que cumpriram um dispositivo tradicional de se considerarem o grande mudo da vida nacional.
Não poupou o Judiciário, que ocupou o papel de juiz e verdugo dos corruptos que infestam a atual fase da República. Ele diz que não há um nome de general dando palpites sobre a Operação Lava Jato, função assumida pelo Judiciário, que nem sempre chega a soluções corretas, concedendo habeas corpus, prisões domiciliares e penas absurdas que equivalem a centenas de mortes.
O caso de Bolsonaro parece uma exceção. Predomina entre as Forças Armadas uma cautela para impedir os crimes e desmandos do último regime militar. Ponto favorável para FHC e lição que não deve ser esquecida pelos crimes da ditadura de 1964.
Ao contrário da ditadura de 1964, não sabemos os nomes de militares que desejam uma volta ao passado, como fazem Bolsonaro e alguns magistrados que se investem de varões de Plutarco.