Sempre que surgem pesquisas eleitorais o nome da ex-senadora Marina Silva, líder do partido Rede, aparece entre os mais cotados, embora ela não tenha ainda afirmado que vai se candidatar novamente à presidência da República.
Mesmo tendo sido senadora, ministra do governo Lula por sete anos, fundadora do PT, e candidata à presidência da República duas vezes, Marina não é vista como uma política tradicional pelo eleitorado. Possivelmente por sua maneira independente de fazer política.
Provavelmente vai se candidatar mais uma vez, mas tenta mudar algumas regras eleitorais para ter competitividade. Pelas atuais, seu partido terá 20 segundos de rádio e televisão, se não fizer alianças, e uma parte ínfima do fundo partidário.
Ela diz que as regras foram feitas para impedir que a Rede se desenvolva, o que pode distorcer as eleições de 2018. Os partidos majoritários que fizeram essas regras são os mesmos que estão sendo investigados pela Operação Lava Jato por terem fraudado as eleições anteriores com financiamentos de Caixa 2 ou propinas de grandes empresas.
Marina sente-se à vontade para fazer essas críticas por não ter sido alvo de acusações desse tipo. Até mesmo os problemas que surgiram depois da morte do ex-governador Eduardo Campos, de quem era vice, não a atingem diretamente.
Para Marina, é preciso trocar o presidencialismo de coalizão pelo de proposição. Ela se sente responsável pelos cerca de 20 milhões de votos que tem tido em média nas eleições presidenciais, e vê a política como um serviço público, e por isso dificilmente deixará de se apresentar como candidata.
Pretende basear uma provável campanha na necessidade de um plano estratégico para pensar o futuro do país, com o meio ambiente na ponta desse pensamento estratégico. A seu ver, há um espaço a ser ocupado por ideias, em que a sociedade se separa da área política, e é preciso preencher esse espaço com propostas que levem o governo para mais próximo do cidadão.
Os partidos têm o monopólio da política, e seria preciso abrir espaço para que atores não ligados à política tradicional se sentissem estimulados a participar como candidatos independentes. A visão crítica de Martina dos partidos políticos que estão se unindo contra a Lava Jato faz com que ela proponha uma série de inovações para que novos personagens possam participar da disputa eleitoral fora do jugo das legendas atuais.
A Rede criou o “deputado cívico”, que pode atuar dentro do partido sem obrigação de seguir sua orientação, mas dentro de uma linha de afinidade. A Rede quer agora candidaturas independentes, pois acredita que é preciso atrair representantes da sociedade que não estejam comprometidos com conchavos partidários.
Já existe uma proposta de emenda constitucional, que está sob exame do Supremo Tribunal Federal (STF), cujo relator é o ministro Luís Roberto Barroso. Ela altera os artigos 14 e 77 da Constituição, para permitir a apresentação de candidaturas a cargo eletivo independentemente de filiação partidária, desde que haja o apoiamento mínimo de eleitores na circunscrição, e para possibilitar a associação de candidatos independentes em listas cívicas, nas eleições proporcionais.
Esse apoiamento mínimo deve ser coletado em no máximo 8 meses e apresentado perante a Justiça Eleitoral competente até 30 dias antes do início do período estabelecido em lei para a realização das convenções eleitorais partidárias, diz a proposta, que cria o Artigo 17-A. Por ele, os candidatos sem filiação a partido político que atenderem aos novos requisitos poderão, para fins de cálculo do quociente eleitoral nas eleições proporcionais, associar-se em lista cívica, desde que postulantes ao mesmo cargo eletivo na mesma circunscrição eleitoral.
O número de integrantes de uma lista cívica obedecerá aos limites estabelecidos em lei para os partidos políticos. Será garantida aos candidatos independentes e às listas cívicas a participação no horário eleitoral gratuito, bem como nos recursos financeiros públicos na forma da lei.
Para Marina, PT e PSDB deveriam ter se encontrado nesses anos todos nos pontos convergentes, mas nunca tentaram, porque só lidam com a política como disputa entre adversários que precisam ser aniquilados para que o outro sobreviva. Segundo ela, agora, os dois estão juntos pelos motivos errados, querem combater a Lava Jato, que, na sua visão, é o fato mais importante que aconteceu na política brasileira nos últimos tempos.
Ela continua acreditando que é possível fazer um governo com as boas pessoas de vários partidos que se unam por programas, por projetos de longo prazo. Ela vê a reforma política em andamento como um meio para consolidar os mesmos de sempre.
O fundo de financiamento público, além de valores absurdos, será distribuído de maneira desigual entre os partidos para reeleger aqueles beneficiados pela propina paga na última eleição. Agora vamos pagar aos políticos para que eles não roubem mais nas eleições, ironiza Marina.