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Mais uma vez

 

A chegada das tropas do Exército ao Rio, antecipada por Ancelmo Góis aqui no Globo, era “mais que necessária”, como ressaltou o presidente da Câmara Rodrigo Maia, e certamente aumentará a sensação de segurança do cidadão, mas não é um fim em si mesma.

Enquanto a segurança ostensiva dificulta a ação dos bandidos, que estavam atuando com grande desembaraço nos últimos meses nas ruas da cidade e no interior do Estado, um trabalho aprofundado de inteligência das Forças Armadas vai permitir que se chegue a resultados de longo prazo mais efetivo.

As tropas não podem ficar no Estado por todo o sempre, estão autorizadas num primeiro momento até o fim do ano, e podem ter a permanência prorrogada até 2018, mas é preciso que esse período seja aproveitado para reorganizar o sistema de segurança do Rio para que a ação tenha efetividade.

Além da redução da incidência de crimes com a presença de tropas nas ruas, pois já existem estudos mostrando que nessas ocasiões há uma queda de cerca de 30% nas ocorrências justamente pela atuação ostensiva dos militares ou dos policiais, os militares atuarão também em ações específicas, de acordo com os levantamentos dos órgãos de segurança que já se encontram há meses no Rio.

Ao mesmo tempo, as questões financeiras mais urgentes estarão sendo amenizadas pela ajuda de órgãos federais, de maneira que as polícias civil e militar sejam rearticuladas. O ministro da Defesa Raul Jungman ressaltou o assassinato de policiais no Rio como um dos detonadores da decisão de enviar tropas para o Rio de Janeiro.

Mais do que um escândalo em si, pois em nenhum lugar do mundo mata-se policial como a facilidade com que acontece no Rio, o assassinato de policiais é uma conseqüência do descalabro do sistema de segurança no Estado.

Os bandidos perderam o medo de enfrentar policiais, seja pela relação promíscua que se institucionalizou em certas áreas da cidade, seja pela quase certeza da impunidade, pois as forças policiais do Rio há muito tempo não têm as condições mínimas de atuar com eficiência, pela falta de apoio material, ou mesmo pela completa desorganização da estrutura governamental.

Ontem já podiam ser vistos soldados do Exército fortemente armados na orla da Zona Sul, área turística da cidade que vem sofrendo com a falta de policiamento. A indústria do turismo, uma das principais do Estado e da cidade do Rio, tem sofrido forte depressão especialmente devido à falta de segurança.

Segundo o ministro da Defesa, não haverá uma rotina de emprego dos militares em ações do Plano Nacional de Segurança, eles cumprirão missões específicas, com base nas informações levantadas pelos órgãos de inteligência do Comando Conjunto que atua no Rio.

Ao contrário do que acontece em eventos específicos, como nas Olimpíadas, os militares não se limitarão apenas ao patrulhamento ostensivo, mas atuarão em missões pontuais para o combate ao crime organizado em operações seqüenciais, mas intercaladas.

 Adiamento

Apesar da insistência do presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia, tudo indica que não haverá quorum no dia 2 para a votação da permissão para processar o presidente Michel Temer que a Procuradoria-Geral da República pede.

A ação militar no Rio de Janeiro está no rol das medidas para reforçar politicamente Maia, e a tentativa dele de conseguir o quorum mínimo de 342 deputados para a votação é a contrapartida para tirar da frente esse problema do presidente Temer, pois tudo indica que o governo tem até um pouco mais de 175 votos ou ausências para ganhar a parada.

Mas nada disso faz passar uma imagem de governo com capacidade operacional. Ao contrário, a cada dia que passa o governo fica mais vulnerável aos humores de uma minoria.

O Globo, 29/07/2017