O presidente da Câmara Rodrigo Maia olha para seu futuro político com fome de poder, mas com cuidadosa ambição. Já se colocou, pelo posto que ocupa, como alternativa à presidência da República “dentro de alguns anos”, explicou, modestamente, a Roberto D’Ávila em recente entrevista.
Agora, em outra entrevista para o site Poder 360 de Fernando Rodrigues, anuncia que seu partido, o DEM, não tem condições de apoiar o PSDB na eleição de 2018.“A relação com o PSDB nas duas últimas eleições foi de quase imposição na eleição presidencial, deles em relação à gente. Foi um constrangimento em 2010. Em 2014, uma chapa puro-sangue [só de tucanos]”.
Como quem se sente revigorado com a possibilidade de adesões em massa do PSB, o presidente da Câmara deixa no ar a possibilidade de o partido lançar candidato próprio à presidência, o que só aconteceu anteriormente em 1989, quando ainda se chamava PFL, com a candidatura de Aureliano Chaves.
De lá para cá, o hoje Democratas manteve a postura de coadjuvante do PSDB, ora dando o vice-presidente, ora nem isso. Como o PMDB até aqui, também o DEM contentava-se em ser partido auxiliar, e os dois partidos presidenciáveis, como os classifica o cientista político Octávio Amorim Neto, sempre foram PT e PSDB, que disputaram as seis eleições presidenciais entre si.
O PMDB encarnava um paradoxo: nunca disputava a eleição presidencial depois de 1989, quando apresentou seu presidente Ulysses Guimarães. Mas nenhum governo conseguia funcionar sem seu apoio. Agora, quer ser protagonista se conseguir ultrapassar essa crise que engolfa o governo Temer, mas para isso tem que enterrar o projeto político do DEM, que é o de assumir a presidência da República da mesma maneira que o PMDB assumiu, em substituição ao presidente incumbente.
Ao revelar que o DEM não pode, neste momento, apoiar uma candidatura do PSDB à presidência da República, mesmo depois de um jantar de confraternização que seus principais líderes tiveram com o presidenciável governador de São Paulo Geraldo Alckmin, Maia deixa implícito que o partido considera que ainda não se esgotou a possibilidade de vir a substituir Michel Temer.
Mas tomou o cuidado de abrir portas para futuras negociações políticas caso essa janela de oportunidade se feche. Disse, por exemplo, que o DEM quer discutir quem vai apoiar quem nos Estados, e nesse caso tem um interesse próprio: o governo do Rio de Janeiro, onde o PMDB até agora comanda a política com resultados desastrosos.
Mesmo assim, há setores do partido ainda no governo que insistem em uma candidatura do PMDB, como o ex-prefeito do Rio Eduardo Paes. No entanto, será preciso saber como andarão as investigações da Lava Jato, e, sobretudo, as delações de Eduardo Cunha e do doleiro Lucio Funaro, para ver que futuro têm as candidaturas de Maia e Paes.
A entrevista de Rodrigo Maia tem objetivos tão definidos que seu pai, o vereador Cesar Maia, ex-prefeito da cidade do Rio que se preparava para disputar o governo do Estado, a publicou no seu blog. Os próximos meses mostrarão se o DEM tem condições de se fortalecer a ponto de ser um protagonista desse jogo político imprevisível que se avizinha.
Se Rodrigo Maia ascender à presidência da República, terá condições legais de disputar a reeleição no cargo, o que é uma vantagem para qualquer candidato. Se tiver que disputar outro cargo, como governador do Rio, ou mesmo deputado federal, terá que deixar o cargo seis meses antes, em abril do próximo ano.
Para disputar o governo do Rio tem que agir com a máxima cautela para não se queimar, pois para ser um candidato viável pode depender da boa vontade do Palácio do Planalto, que nesse caso continuará tendo em seu comando um Michel Temer que dificilmente recuperará a força política que já teve no Congresso, mas terá a caneta na mão. Mas pode contaminar os protegidos com sua impopularidade.