A notícia de que as Forças Armadas vão reforçar a segurança no Rio é bem-vinda, mas desde que seja uma medida de emergência para enfrentar a escalada de violência que assola a cidade e o estado. E não a solução definitiva do problema, como não foi no ano passado durante as Olimpíadas, quando a paz reinou durante 58 dias aqui e nas outras cidades onde ocorreram os Jogos. Depois, como se viu, tudo voltou ao “normal”, com os bandidos retornando ao trabalho. A piada era que eles tinham tirado férias.
É possível que a frustração sirva de lição agora que um plano cuidadoso de intervenção está sendo estudado pelo Ministério da Defesa, que criou um “gabinete de inteligência” formado por oficiais graduados de Exército, Marinha e Aeronáutica em conjunto com a Abin, a PF e órgãos estaduais e municipais. Se, como se espera, for levada em consideração a experiência de outros lugares, que não se esqueça do caso de Nova York, que já foi uma das cidades mais violentas do mundo.
Os turistas voltavam de lá, me lembro, contando histórias assustadoras de assaltos até em elevador, bolsas arrancadas das senhoras em lojas, roubos em restaurantes, um horror. É bem verdade que não havia balas perdidas, nem escolas fechadas pela violência, nem mais de 90 policiais assassinados em sete meses, nem guerra urbana. Mas havia gangues, cracolândia, narcotráfico e um metrô perigosíssimo. O que fez NY se transformar em uma das cidades mais seguras dos EUA e do mundo?
Foram várias ações e uma política inspirada no princípio da “tolerância zero” (“quem rouba um ovo, rouba um boi”) e na teoria das “janelas quebradas”, baseada no experimento de um psicólogo da Universidade Stanford, que deixou um automóvel num bairro de classe alta e outro numa zona pobre. Em 30 minutos, o carro deste último bairro foi depenado, e o outro permaneceu intacto por uma semana. O pesquisador, então, quebrou uma das janelas do veículo estacionado no bairro chique e este, em poucas horas, também foi destruído. No início da década de 90, o ex-prefeito Rudolph Giuliani implantou um sistema penal pondo em prática os dois princípios: o de que os pequenos delitos deviam ser combatidos rigorosamente para evitar a formação de futuros marginais. E o de que a desordem é mais responsável pela criminalidade do que a pobreza. Nos seus oito anos de gestão, Giuliani diminuiu drasticamente o crime, mas sua política é contestada pelos que advogam mais prevenção do que repressão. Com a palavra, os estrategistas da nova intervenção militar no Rio, uma cidade de tolerância cem e desordem mil, a terra da bandalha, a única no mundo que precisa de placas com a seguinte advertência: “Jogue lixo no lixo”.