Jurado de extinção por Lula quando ainda era o presidente popular que elegeu o poste Dilma em 2010, ameaçado pela criação do PSD de Gilberto Kassab em 2012 que o desidratou, o DEM, antigo PFL, teve que trocar de nome para tentar se modernizar, parecia carta fora do baralho partidário, mero coadjuvante do PSDB, e hoje se torna o peão de uma possível reformulação partidária que uniria inicialmente dissidentes do PSB para, mais adiante, ser o embrião de um novo partido que acolhesse dissidentes de outras legendas, até mesmo do PSD de Kassab.
Tudo por uma máxima da política, a expectativa de poder. A eleição do deputado Rodrigo Maia para a presidência da Câmara na substituição de Eduardo Cunha transformou-o na bola da vez da política brasileira, diante da possibilidade real de que o presidente Michel Temer venha a ser retirado da presidência por um processo no Supremo Tribunal Federal.
A disputa pelos dissidentes do PSB foi um passo em falso que o presidente Michel Temer tenta consertar nas últimas horas, com almoços e jantares. Mas muitos outros almoços e jantares antecederam esses, no ano em que se conspirou secretamente pelo impeachment da então presidente Dilma Rousseff em reuniões na casa do deputado Heraclito Fortes, hoje o principal articulador da entrada de um grupo de 11 deputados do PSB no DEM.
Faziam parte desse grupo os deputados Benito Gama (PTB-BA), José Carlos Aleluia (DEM-BA), Raul Jungmann (PPS-PE), Rodrigo Maia (DEM-RJ), senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), Pauderney Avelino (DEM-AM), Mendonça Filho (DEM-PE), Júlio Lopes (PP-RJ), Danilo Forte (PSB-CE), Carlos Marun (PMDB-MS), Fernando Bezerra Coelho Filho (PSB-PE), Tadeu Alencar (PSB-PE). Nessa conspirata política que foi costurada cuidadosamente reforçaram-se os laços entre a maioria desses políticos, que estavam em partidos que nada tinham a ver com suas tendências ideológicas por questões regionais.
E mais uma vez serão as questões regionais que reunirão os dissidentes do PSB mais ligados ao liberalismo econômico ao DEM, que ressurge no quadro político nacional. O senador Agripino Maia, que surgiu como presidente de conciliação quando da dissidência de Kassab, defendia sempre a idéia de que o DEM é o único partido liberal deste país.
Maia vê hoje o partido reforçado em suas convicções, que já classificou de "um partido moderno", em vez de “partido de direita”. A união com o PSB vem de longa data, quando o partido socialista chegou a imaginar uma união com o PSD de Kassab, principalmente pela força em São Paulo, onde hoje Marcio França é vice do governador Geraldo Alckmin e poderá assumir o governo caso o governador saia para disputar a presidência da República pelo PSDB.
Nesse intervalo, porém, existe a possibilidade de que o presidente da Câmara Rodrigo Maia assuma a presidência da República, expectativa de poder que já ajuda a incentivar a união com os dissidentes do PSB. A medida dessa possibilidade pode ser entendida por uma pergunta singela: por que os dissidentes não correram para o PMDB, o partido que está no poder?
O Democratas espera assumir o papel de um grande partido liberal, próximo especialmente da classe média, trabalhando questões que afetam seu dia a dia, como meio ambiente, altos impostos, desemprego e insegurança pública. A refundação programática do partido, numa posição que classificam de "centro humanista e reformador", já se desenhava desde uma reunião da Internacional Democrática de Centro (IDC) realizada no Rio, em 2005.
A IDC se contrapõe à Internacional Socialista, que reúne os partidos de esquerda e sociais-democratas no mundo. O que os Democratas defendem é que está na hora de uma verdadeira experiência liberal, com uma reforma do pacto federativo para diminuir o tamanho do Estado para conseguir também uma redução de impostos.
Essa seria boa plataforma para uma eventual gestão de Rodrigo Maia na presidência da República, que traria revigorada a possibilidade de aprovar as reformas estruturais que o governo Temer já não tem fôlego político para liderar.