A disputa pela dissidência do PSB entre o DEM, do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e o Palácio do Planalto, com a interferência pessoal do presidente da República, Michel Temer, demonstra, por um lado, que o governo tem apoiadores até mesmo nos partidos de oposição, assim como tem opositores em partidos da base, como o PSDB.
Mostra também que a desconfiança entre Temer e seu presuntivo sucessor, o presidente da Câmara, está instalada, e nada garante que o jantar de ontem resolverá a questão. O PSB, presidido por Carlos Siqueira, estava em ação para retirar o poder político de seus dissidentes, que continuam dispostos a apoiar o presidente Temer.
Onde havia diretório provisório, houve intervenção da direção nacional, e negociações foram abertas com a Rede, de Marina Silva — que já foi a candidata do partido, na eleição de 2014, após a morte de Eduardo Campos, de quem era vice —, para a formação de um bloco de atuação na Câmara. Esse bloco permitiría ao PSB continuar atuando sem restrições, mesmo perdendo de 10 a 12 deputados, como se prevê.
Paralelamente, a direção nacional do PSB estabeleceu contatos com o ex-ministro do STF Joaquim Barbosa para tê-lo como candidato à Presidência da República no ano que vem. Barbosa já havia sido contatado também por Marina, mas a conversa não chegou a aprofundar-se, embora as informações sejam de que a presidente da Rede gostaria de contar com ele e com o também ex-ministro do Supremo Ayres Britto em seus quadros.
A maioria da bancada do PSB na Câmara está contra a permanência do presidente Temer, e os dissidentes minoritários começaram a buscar outras legendas, tendo o DEM surgido como alternativa viável por ter sido a legenda de um dos líderes da dissidência, o deputado Heráclito Fortes, e por ser da base aliada do governo Temer.
Mas a negociação foi vista por assessores de Temer como uma manobra para fortalecer a posição do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, com vistas à sucessão de Temer. Por isso, o presidente chamou para um café da manhã alguns dos deputados do PSB, entre eles a líder Tereza Cristina, que logo em seguida foi para a casa de Rodrigo Maia.
O movimento de Temer foi criticado por todos os partidos envolvidos. O presidente do PSB, Carlos Siqueira, disse que é "surpreendente" que um presidente da República deixe seus afazeres para tratar de assuntos partidários.
"Michel Temer está parecendo mais um chefe de partido do que um chefe de governo." O que obrigou o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), a garantir, pelo Twitter, que o presidente da República não faz política partidária.
Já do lado do DEM, as críticas foram duras, pois o partido é um dos principais aliados do governo e considerou um ato de traição a tentativa de Temer de levar os dissidentes para o PMDB.
Todo esse imbróglio é uma demonstração de que o governo está usando todas as armas e o conhecimento que o presidente da República tem da organização das forças políticas para neutralizar o menor sinal de que possa haver traição na votação da aceitação do processo contra ele.
Essa movimentação, em pleno recesso parlamentar, indica também que as forças políticas estão se deslocando de acordo com interesses visando a próxima eleição, em sintonia com suas bases eleitorais.
O PSB está majoritariamente oposicionista especialmente porque no Nordeste a força do lulis-mo ainda é muito grande, e os dissidentes, que não são ligados à esquerda, procuram se acomodar em legendas mais favoráveis a seus interesses imediatos.
A volta do recesso vai previsivelmente aumentar mais ainda essa acomodação partidária e, por isso mesmo, é mais provável que a votação fique para setembro, pois o governo teme que fazê-la logo na volta dos deputados de suas bases pode afetar negativamente o resultado.