Pode parecer exagero do cronista, mas diante de tanta confusão e misérias, delações premiadas ou não, ainda nos faz falta um personagem de péssimo caráter, mas com uma inteligência que marcaria a Revolução Francesa com as maiores felonias da política universal, principalmente a da França durante a revolução que, entre outros feitos, levou o rei Luís 16 à guilhotina.
Joseph Fouché, ex-sacerdote, hábil na intriga, sem qualquer escrúpulo moral, aos poucos foi galgando posições que o tornaram o homem mais poderoso daquele tempo.
Poucos souberam aproveitar a confusão de uma revolução que talvez seria a maior da história. De origem modesta, chegou a ministro e chefe de polícia da monarquia que ele ajudara a derrubar.
Balzac escreveu sobre ele e Stefan Zweig fez dele o personagem de seu melhor livro. Todos os gigantes da revolução foram vítimas de suas intrigas. E eram os homens mais notáveis da época, incluindo o rei, a rainha, os principais chefes do Exército e da polícia. Apesar de regicida, a custa de golpes mirabolantes, depois de levar Luís 16 e seus principais dignitários à guilhotina, terminou a vida como Duque de Otranto, fazendo parte da nobreza que ele ajudara a derrubar.
Na crise brasileira que atravessamos, temos personagens maquiavélicos, mas não chegamos ainda a produzir um Fouché, embora não faltem candidatos a repetir as proezas do Duque de Otranto.
Sem perspectiva para julgar a crise brasileira atual, com a desmoralização de presidentes, governadores, grandes empresários "et caterva", a impressão é que, mesmo sem guilhotina, não se sabe ainda quantos foram ou serão fregueses do eficiente invento do doutor Guillotin.
Resta torcer para que tanto sangue derramado não seja em vão e que os Fouchés de hoje não disputem a glória do duque de Otranto.