Os dias eram assim quando Itamar Franco assumiu o governo após o impeachment de Collor em 1992: desemprego, inflação, recessão, descrença, baixa autoestima. Parecia hoje. Por isso, muita gente achava que Michel Temer seria o novo Itamar, aquele que ninguém dava nada por ele e que implantou o mais bem-sucedido plano econômico da Nova República. O “presidente do Real” saiu com tanta popularidade do governo que ajudou a eleger Fernando Henrique Cardoso, seu ex-ministro. Com o sucessor de Dilma esperava-se que acontecesse o mesmo. Até que acertou na escolha da equipe econômica, que tomou medidas efetivas na tentativa do reequilíbrio das contas públicas, mas na área política, em seis meses, perdeu seis ministros abatidos por denúncias em delações premiadas.
Hoje, ele é um dos presidentes mais rejeitados da História e, investigado por corrupção, organização criminosa e obstrução à Justiça, está a caminho de um melancólico fim de governo. Entre as razões está também o apego ao poder, que o fez mandar às favas escrúpulos ao optar pela permanência no cargo a qualquer custo. “Não renunciarei, repito, não renunciarei”, garantiu em um pronunciamento depois da visita clandestina no Jaburu do polêmico empresário Joesley Batista, que gravou escondido a comprometedora conversa entre os dois.
A partir da revelação desse escândalo, o presidente passou a desenvolver intenso movimento para evitar a queda: conspira com aliados, promove troca-troca de ministros, tenta adiar o julgamento de sua chapa com Dilma no TSE, procura atrair indecisos oferecendo vantagens, enfim, utiliza vários expedientes, nem sempre legítimos, para dizer ao povo que fica. O mais recente foi a transferência para a Justiça de Torquato Jardim, tido mais como um advogado de defesa do que como ministro. Crítico declarado da Lava-Jato, sua nomeação preocupa as entidades de classe, que temem interferência política na PF com o propósito de dificultar o trabalho de combate à corrupção, em especial o da operação comandada pelo juiz Sergio Moro. Como se sabe, desde que passou a ser alvo de investigações, Temer não esconde sua insatisfação com a PF, acusada por ele de praticar excessos que precisam ser corrigidos.
Por enquanto, o presidente está tendo um refresco das ruas, mais ocupadas com as “diretas já” do que com o “Fora Temer” — pelo menos até se darem conta de que as possibilidades de realização daquelas são remotas e de que a saída para a crise seria a “saída já” de quem insiste na indevida permanência.