Político audaz, de origem modesta, celebrado por sua honestidade e amor aos humildes, não se sabe como arranjou uma empreiteira que comprou para ele um apartamento de três andares com vista para o mar e com direito a dar palpite sobre sua construção. Tudo bem, mas a mulher dele não gostou de uma coluna que impedia a vista para o mar e atrapalhava o acesso aos andares superiores.
Removida a coluna, decidiram fazer uma escada rolante, que foi prontamente recusada pela dona do imóvel, uma vez que as crianças podiam se machucar ao subir ou descer para o andar de baixo. A solução encontrada foi um elevador especial que obrigou os arquitetos a mexer no piso dos três andares.
Os adversários da audácia do político protestaram contra o desperdício de tanto dinheiro. A cozinha também não agradou aos donos do imóvel, que descobriram 500 erros na construção. A empreiteira, que devia favores colossais ao político também colossal, pagou tudo e acreditou que tinha feito um grande negócio.
Entrementes (não se usa essa palavra há 2.000 anos), a mídia e o povo em geral reclamaram de tanto desperdício para contentar um político audaz que chegaria à Presidência da República confiando na gratidão do beneficiado.
Antes do apartamento, o mesmo político audaz fez um porto em Cuba, ajudando a exportação de cana e charutos, o que motivou justificado ciúme em Uganda, país que não tem porto nem mar. Mesmo assim, foi aberta uma licitação para a construção de um canal que ligaria o país ao litoral.
O projeto da obra foi considerado uma nova solução para todos os países desprovidos de mar. A empreiteira financiaria todas as obras em obediência radical às licitações, que seriam saudadas pelas centrais de trabalho de todo o mundo.