Pela exaustiva apuração, “Em nome dos pais” é um livro-reportagem. Pela estrutura narrativa e pela trama, pode ser considerado um romance investigativo — sem ficção. Nos dois casos, trata-se de um esforço exemplar contra o esquecimento daquilo que deve ser lembrado num país que sofre de amnésia crônica. Do ponto de vista do autor, é a busca dos responsáveis pelas arbitrariedades e violências cometidas contra seus pais durante os anos de chumbo. Matheus ouviu pela primeira vez a história aos 12 anos, e quatro décadas depois, já repórter, foi atrás de todos: delator, chefe do inquérito, torturador. Não para se vingar, mas para fazer as perguntas que não queriam calar. Enfim, para conhecer os algozes, saber como estão hoje, o que pensam e como se justificam. Que ódio era aquele capaz de submeter dois jovens estudantes ao hediondo espetáculo de vários tipos de tortura, como a ameaça sádica de cães ferozes e até, vejam o requinte de perversidade, a presença de uma jiboia na cela escura em que, nua e indefesa, se encontrava a prisioneira.
Os capítulos “Frente a frente com o delator”, “Frente a frente com o torturador” e “O reencontro entre a vítima e o algoz” põem à prova a consciência profissional do jornalista e sua tolerância. Depois de uma dessas insuportáveis entrevistas, o narrador desabafa: “Eu sabia que podia ser criticado por não ter pulado em seu pescoço e não tê-lo agredido. Segurei minha raiva. Tinha feito as perguntas que queria fazer”.
“Em nome dos pais” é indispensável pelo que relata, mas também pelo que ensina — que se pode perdoar, mesmo sendo difícil, mas esquecer jamais.