O governo não vai ter gestos bruscos para responder aos ataques de seu líder no Senado Renan Calheiros, aí compreendida até mesmo a incongruência de ter um líder que faz reuniões permanentes para criticar o governo a que deveria servir. Essa aparente capacidade de enfrentar uma crise desse tamanho sem perder o controle está baseada na premissa de que a reforma da Previdência será aprovada pelo Congresso.
Caso aconteça o que estão chamando de “catástrofe”, isto é, o Congresso virar as costas para o Palácio do Planalto de Temer, quebrar o encanto do governo e deixá-lo nu no meio da Praça dos Três Poderes, ninguém sairá vencedor, alegam os principais assessores governamentais nas conversas de bastidores para conseguir os votos necessários à aprovação.
Nem mesmo Renan Calheiros que, diante da popularidade de Lula no nordeste, agarra-se a ele como bóia de salvação de seu foro privilegiado, na tentativa de reeleição para o Senado. Ele aparece em terceiro ou quarto lugar nas pesquisas regionais, enquanto seu filho perde a disputa da reeleição para o governo de Alagoas.
Renan atribui essa impopularidade a seu quase ex-aliado Michel Temer, que amarga uma rejeição recorde nas pesquisas eleitorais. Ontem mesmo Renan Filho, o governador de Alagoas, anunciou que Temer é rejeitado por 90% no Estado.
Renan pai acha que, ao contrário, a popularidade de Lula pode melhor a sua imagem diante do eleitor de Alagoas. Não entra na sua conta, talvez por menosprezo do eleitor que votava nele, que sua atuação nos últimos anos foi sendo minada pelos diversos processos abertos no Supremo Tribunal Federal (STF). Ou que seu filho seja simplesmente um mau governador. O inferno são os outros, na versão sertaneja.
Sim, por que, se aliando a Lula, o (ainda) líder do PMDB no Senado tentará salvar sua pele e a de seu filho, mas para isso não é necessário que Lula se torne presidente da República novamente. Basta que continue popular no nordeste, sendo candidato ou não, talvez até melhor mesmo sendo preso, para fazer uma campanha eleitoral de choro e ranger de dentes contra um governo impopular, a favor do antigo líder populista impedido de se candidatar.
Mas esse plano está longe de seu objetivo final, e talvez não seja Lula, mas Renan que não chegue ao fim. Sua capacidade de mobilização no Senado já não é a mesma de antes, dos 12 processos no Supremo, basta um para tirá-lo da eleição de 2018.
O governo Temer continua jogando tudo na capacidade de obter uma maioria no Congresso, mesmo a custa de mudanças em pontos sensíveis aos que buscam votos, como regras de transição mais brandas, ou idade mínima diferente para aposentadoria de homem e mulher, mudando progressivamente até que a igualdade no mercado de trabalho permita a igualdade na idade de aposentadoria.
Vencedor nessa batalha, Temer pode até mesmo se tornar mais impopular ainda, mas o país terá readquirido a confiança dos investidores e a economia, que dá fracos, mas consistentes, sinais de melhora, terá condições de chegar a 2018 em ritmo de crescimento mais definido, com reflexos até mesmo no desemprego.
Nada que torne Temer um presidente popular, mas o suficiente para neutralizar eleitoralmente o movimento de corporações e sindicatos contra as reformas. Derrotado o governo, não haverá amanhã para ninguém, estejam a favor ou contra o governo. O país entrará em parafuso, e não há segurança do que virá pela frente.
Renan diz que Temer não tem para onde ir, mas o governo acha que é Renan que não tem saída. Além de ter muitos interesses ainda na máquina governamental, ele não sabe literalmente o dia de amanhã. Assim como para Temer uma derrota na reforma da Previdência pode ser definitiva, uma condenação das muitas possíveis pode ser o fim de sua carreira política, esteja ao lado de Lula ou não.