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A volta dos livros

 

Acabo de voltar dos Estados Unidos. É sempre um prazer e um aprendizado visitar a grande nação do Norte, que hoje vive a experiência de um governo republicano (Donald Trump).

No país desenvolvido existe o leitor eletrônico. Tem-se a certeza de que será praticamente impossível substituir o livro em papel. Hoje, aliás, já se sabe que ambos irão coexistir. Em todas as cidades norte-americanas há sinais de renascimento dos livros. As vendas dos eletrônicos estão praticamente estagnadas enquanto os livros tradicionais cresceram 3%. Qual de nós não é atraído pela sensação táctil dos livros?

A média de leitura é de 12 por ano, com a prevalência dos livros tradicionais. O jornal “Financial Times” publicou que, no ano passado, a Amazon vendeu 35 milhões de livros em papel a mais do que em 2015, nos Estados Unidos, superando largamente a concorrente Barnes & Noble, que fechou uma série de filiais em Miami, como pudemos verificar nessa última viagem. A empresa se reacomodou, com o lançamento do leitor eletrônico Nook. Quem sabe, com a reação do mercado, a BN poderá voltar a dar atenção também ao mercado livreiro, onde foi destaque durante muitos anos? Tinha alegria de ser seu cliente.

O caso do Brasil é bem diferente, pois estamos bem distantes dos Estados Unidos no que se refere aos índices de leitura. Não temos sequer 4 livros de leitura por ano, o que é índice bem baixo para um país com mais de 200 milhões de habitantes. Somos inteiramente favoráveis a uma forte campanha de valorização do hábito de leitura, que deve começar pelo apoio aos cuidados com a língua portuguesa.

Aqui, em vez de cuidarmos disso, temos que nos ver às voltas com o Acordo Ortográfico de Unificação, enfrentando as reações de certos intelectuais portugueses, que não se conformam com a liderança brasileira nesse processo. É comum a publicação de artigos em Lisboa criticando os rumos do AO. São às vezes até desrespeitosos com a nossa cultura, o que não é um bom princípio.

Tudo isso leva a uma realidade quase desastrosa, que são as tiragens com as quais trabalhamos. Já foi tempo em que fazer uma edição de 3 mil exemplares era uma festa. Depois foi baixando e hoje existem livros de 500 exemplares, o que, convenhamos, é uma edição verdadeiramente ridícula. Além do mais, tiragens assim miúdas tornam o livro muito mais caro, o que complica a sua aquisição por parte do público. Somos partidários de um estudo cuidadoso a respeito do assunto, a começar pelos livros didáticos, que merecem uma ampla campanha de barateamento, ao lado de um necessário processo de aperfeiçoamento da sua qualidade.

Quando existia a Colted, que fazia a escolha dos livros didáticos, com recursos da Aliança para o Progresso (década de 60), éramos mais cuidadosos e não havia tanta politização. Vale a pena o MEC dar uma especial atenção a esse setor, que é fundamental para a educação dos nossos jovens.

O Estado do Maranhão, 13/03/2017