Assim como a sensação térmica neste verão foi sempre mais elevada do que a temperatura registrada nos termômetros, a impressão é que o clima político deve esquentar depois da pausa festiva de Momo, não só porque é costume deixar tudo para “quando o carnaval passar”, mas sobretudo porque existem algumas bombas armadas e de efeitos retardados. Uma delas será certamente a delação premiada dos 77 investigados da construtora Odebrecht no âmbito da Lava-Jato, que a presidente do STF, ministra Cármen Lúcia, já homologou. Pelo que vazou para a imprensa, foram citados cerca de 200 políticos de 27 partidos, entre os quais o presidente Michel Temer, os ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff, o ministro das Relações Exteriores, José Serra, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, os ministros Eliseu Padilha e Moreira Franco, além dos senadores Renan Calheiros, Romero Jucá e muitos outros. O acordo é considerado o maior do gênero firmado no país — é a chamada “delação das delações”. É difícil adivinhar quem vai parar de pé.
Romero Jucá tinha razão quando, há meses, propôs um pacto para “estancar a sangria” que a Lava-Jato ia provocar com a decisão do STF de autorizar prisões já em segunda instância. “Vai todo mundo delatar”, ele previu naquela conversa gravada com Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro, em que os dois procuravam articular uma conspiração para melar a operação de Sérgio Moro. Na ocasião, quando Marcelo Odebrecht garantia que não ia colaborar, Jucá já apostava em contrário: “O Marcelo vai fazer (a delação)”, afirmou então para Machado. Pendurado no STF com nove inquéritos, o presidente do PMDB e líder do governo no Senado foi o destaque deste pré-carnaval no quesito originalidade. Incansável, desfilou tentando blindar os presidente da Câmara e do Senado, ameaçou magistrados e integrantes do Ministério público e atacou a imprensa com um virulência digna de Trump.
O momento mais divertido do seu desfile foi quando comentou a possível mudança nas regras do foro privilegiado. “Se acabar o foro, é para todo mundo. Suruba é suruba”. Depois, alegou que estava brincando. Mas não estava quando promoveu, aí sim, uma verdadeira suruba de citações ao comparar os métodos da imprensa brasileira ao nazismo, fascismo, Revolução Francesa e Inquisição. Só não esclareceu se naqueles regimes os jornais publicariam ataques como os seus à própria imprensa.
Quando a gente acha que já viu tudo nessa estação — Renan, Lobão, Geddel, Cunha — o destino nos propõe ninguém menos que Romero Jucá.