Não sei se é verdade que os índios pintam o corpo todo quando entram em guerra com tribos inimigas. Como geralmente vivem nus, há espaço suficiente para expressar na própria pele os motivos de qualquer briga. Com os últimos lances na política nacional, que envolve grandes empresas e a totalidade da mídia, quase todo mundo já se pintou para a guerra que estamos vivendo.
O país está dividido em várias tribos e cada qual já se pintou para a guerra que estamos vivendo. Ninguém está salvo. Todos estamos marcados pelas nossas opiniões e presságios. Praticamente ninguém está nu, qualquer um pode ser acusado de trazer as cores dos adversários. Inclusive, de acordo com as circunstâncias, são muitos os que na hora da luta mudam de lado e de cor.
Ninguém escapa das acusações e suspeitas. Qualquer um de nós pode ser investigado e preso por qualquer motivo. Já me perguntaram o que eu estava fazendo no dia 30 de maio de 1964, num hotel da Barra da Tijuca, em companhia da enteada de um líder sindical. Até hoje não me lembro desse feliz instante que não gozei.
Numa hora dessas, é bom lembrar a máxima do Direito romano: "Res sacra reus". O réu é uma coisa sagrada. Sem entrar no mérito do episódio que envolveu o ex-governador Anthony Garotinho, que ao ser transferido de um hospital para a prisão expressou a sua indignação como qualquer outro expressaria. Foi deprimente exibir a sua reação contra a violência que estava sofrendo.
A verdade é que estamos todos pintados para uma guerra que será inútil para ambos os lados, uma vez que já se fala em anistia para todos os escândalos da nossa vida pública. Em todo caso, os índios tinham suas razões para se pintarem: brigavam por causa de terras, rios, árvores, gado e mulheres.