Há certos momentos em que devemos deixar o conforto das nossas vidas para experimentar novas emoções. Sobretudo se é para conhecer projetos altamente enriquecedores, como o que acabo de conhecer.
A convite do jornalista Luiz Maurício, desloquei-me para a cidade pernambucana de Arcoverde, a 236 km de Recife (são quatro horas de carro), a fim de visitar a benemérita Fundação Terra, dirigida pelo padre Airton Freire. Realiza um notável trabalho de assistência social, envolvendo 2.400 famílias.
São creches, jardins de infância, ensino fundamental até o 5o ano, idosos (90 deles), cursos profissionalizantes de marcenaria, informática, eletricidade de baixa e alta tensão, uma escola de soldadores navais (com o patrocínio da Petrobrás) e soldagem, que já atenderam a mais de 300 jovens.
A verdade é que, antes da chegada do padre Airton, que se tornou um mito em toda a região (ele hoje presta serviços a 35 cidades do agreste pernambucano), o que havia, em Arcoverde, era a lamentável rua do lixo, com adultos e crianças sem perspectivas.
Ao criar a Fundação Terra, com a ajuda de mais 11 pessoas, o padre Airton Freire deu sequência à vida daquela população e hoje se prepara para ampliar esse atendimento, sobretudo para o público feminino, sabendo que ele é a única esperança desses jovens cujas mães, na maioria dos casos, estão presas pelo uso criminoso de drogas.
Ele transformou a rua do lixo, onde a Fundação Terra construiu casas bem simples e as distribuiu pela população desvalida. Assim, padre Airton realiza uma bonita obra missionária, que dá consequência à sua fundação com o slogan: “Na terra para servir.”
A realidade da cidade era dramática. Não havia emprego para os seus habitantes, esquecidos pelos governantes. O jeito era conviver com os animais abandonados nas ruas e, assim, contrair doenças inevitáveis. Um quadro de miséria bem característico do Nordeste, a que se deve agregar a famosa falta d’água. Fazendo um giro pela cidade, na companhia de Luiz Maurício e de Wellington Santana, superintendente da Fundação Terra, pudemos inferir que seriam muito bem vindos cursos como os de carpintaria, mecânica, refrigeração, artesanato e corte e costura, inclusive para equilibrar a demanda entre homens e mulheres.
Arcoverde, visitada no início do século passado pelo escritor Euclides da Cunha, que afirmou ser ali a porta de entrada do sertão pernambucano, tem hoje 62 mil habitantes e uma confiança ilimitada na ação social do religioso mencionado, que não mistura o que faz com qualquer preocupação política.
Com 34 anos de sacerdócio, Airton Freire sonha com o crescimento da sua fundação e confessou-nos o desejo de ver nascer, sob inspiração de Deus, o Centro de Profissionalização de Arcoverde, para canalizar a energia de todos os jovens daquela região.
Com a sua determinação e o empenho da Igreja, não resta dúvida de que os resultados serão cada vez mais auspiciosos. Existindo recursos humanos qualificados, de ambos os sexos, brotarão empregos que darão mais vida à cidade.