Houve tempo em que se chamava de “mal de coluna” o tormento do espaço em branco que os colunistas têm de preencher regularmente. Hoje é o contrário. Neste quase final de ano, houve hiperinflação de temas e personagens, o que dificulta a escolha. Só no quesito escândalo, como decidir entre Cabral, Garotinho, Geddel, Renan, entre outros? Pra começar, fico com o poderoso secretário de Governo e velho amigo de Temer, por ter causado a renúncia e a denúncia do colega da Cultura. Antes, ele já afrontara os bons costumes e o teto constitucional ao dizer que não abriria mão de um centavo nos R$ 51.288,25 que recebe por mês graças ao acúmulo de salário e aposentadoria. Depois, sempre zeloso de seus interesses, Geddel Vieira resolveu agir contra a decisão do Iphan de embargar a construção do prédio em que comprara um apartamento. Ele fez então o que chamou de “ponderação” e que Marcelo Calero classificou de “pressão” — tanta que preferiu deixar o ministério. O presidente manteve Geddel no cargo, mesmo depois que a Comissão de Ética da Presidência abriu processo contra ele, o que funciona como um aviso para os que ficam: quando Geddel “ponderar”, é melhor concordar.
Como não há espaço para comentar as outras más notícias, escolhi a que não é a mais importante, mas a mais pitoresca, revelada pela coluna de Lauro Jardim: o vaso sanitário eletrônico ou privada-ostentação da ex-primeira dama do Estado do Rio Adriana Ancelmo. O leitor (ou leitora) não sei, mas eu nunca experimentei uma igual, e olha que já frequentei alguns dos vasos sanitários mais chiques daqui e de outros países — e os piores também. Já tive que me submeter ao “boi”, o incômodo e anti-higiênico buraco no chão que Sérgio Cabral está sendo obrigado a usar agora, coitado.
Embora sem testar o produto, o repórter Marco Grillo leu, perguntou muito a respeito e nos deu detalhes numa espécie de manual de uso para possíveis interessados. A privada tem assento com temperatura regulada para os dias de frio, tem jato de água com pressão variável para a higiene e para a massagem (!), e controle remoto para acionar o mecanismo. E tudo pela bagatela de 500 dólares ou menos de R$ 2 mil, à venda nas boas casas do ramo ou pela internet. Como gosto de ver o lado bom das coisas, fiquei me perguntando se atrás desse supérfluo sonho de consumo não haveria uma bem intencionada ação de preservação ambiental.
Quem sabe a compra dessa parafernália eletrônica não terá sido para dispensar papel higiênico que, como se sabe, ajuda a devastar nossas florestas?