RESPOSTA DO SR. MEDEIROS E ALBUEQUERQUE
SR. FERNANDO Magalhães,
Por hoje, meu ilustre colega, tomarei a vossa profissão habitual: eu serei o parteiro.
Muita gente tendes esperado às portas da vida, para lhe facilitar o ingresso. Às portas da Academia, aqui estou eu, para vos acolher em nome dela.
Disse uma vez alguém, descrente da justiça dos júris, que o júri era uma instituição em que os jurados iam apenas decidir quem falava melhor: o promotor ou o advogado do réu. Já houve quem dissesse que uma sessão de recepção na Academia é um torneio em que se vai ver quem fala melhor, se o recipiendário, se quem o recebe. Se algum dos presentes assim pensa, pode já retirar-se: o que fala melhor já falou...
* * *
Se comecei aludindo à vossa profissão habitual foi porque vós mesmo destes o exemplo, insurgindo-vos contra os que, não se sabe com que autoridade, procuram tutelar-nos, discutindo as nossas escolhas e falando contra o que chamam o regime dos expoentes. Por isso fizestes bem em começar afrontando esses acusadores, porque a Academia se sente orgulhosa desses expoentes, que, ao fino gosto de homens de letras, homens de boas letras, juntam a qualidade de ser os mais altos valores representativos das classes a que pertencem.
Se, de fato, nós quiséssemos que aqui ficassem apenas os que são puros letrados, vivendo da literatura e vivendo para a literatura, teríamos de dissolver-nos pacificamente. Não ficaria um só. Não ficaria sequer a memória de nenhum dos que já morreram, a começar pelo glorioso presidente que primeiro nos reuniu sob a sua autoridade: Machado de Assis.
Esse foi um burocrata minucioso, que passou a vida a informar papéis em um dos Ministérios, remetendo-os, dia a dia, ao respectivo ministro: “Passo às mãos de V. Ex.a... De acordo com as ordens de V. Ex.a... V. Ex.a decidirá, porém, como entender na sua alta sabedoria...” Dessa alta sabedoria de alguns de seus chefes, como devia sorrir (sorrir apenas, porque, na sua infinita discrição, ele não sabia rir) o fino ironista de Quincas Borba e Brás Cubas!
Mas, com Brás Cubas e Quincas Borba, Machado de Assis teria também de sofrer o mandato de despejo que a todos nos atingiria.
Os que se preocupam com a invasão de médicos nesta Companhia e que, no entanto, não se admiram de ver aqui, em muito maior número, funcionários e doutores em direito, prestam a estas categorias uma homenagem muito negativa... Praticamente, é como se dissessem que os funcionários nada têm que fazer e podem assim ter tempo para a literatura, – literatura, simples literatura, de que o direito na opinião deles deve ser um ramo.
A verdade é que, como vós mostrastes tão eloqüentemente para os médicos, o gosto literário e a cultura de todas as formas que o suscitam pode perfeitamente se aliar com a mais austera educação científica. Aqui estão, lado a lado, brilhando com o mesmo fulgor, um expoente do Direito, que se chama Clóvis Beviláqua, e um expoente da Medicina, que se chama Miguel Couto. Educado na seca ciência da matemática, por aqui passou um engenheirinho, que não era de todo insignificante: chamou-se Euclides da Cunha. Foi o autor dos Sertões.
Se nós quiséssemos gracejar com os nossos irritantes tutores, podíamos lembrar-lhes que, ao menos, somos um pouco mais previdentes do que parece na escolha das especialidades dos médicos que elegemos. Notai que, se temos o grande médico que, pela aclamação de seus pares, é o especialista máximo de todas as especialidades, temos um, que agora é higienista, mas já foi psiquiatra, médico de loucos, e ainda neste momento acaba de agitar perante o Congresso a questão da assistência aos psicopatas; temos outro que escreveu um notável tratado sobre a semiótica das moléstias nervosas, e temos, enfim, um terceiro cujos trabalhos sobre moléstias na fronteira da neuriatria e da psiquiatria são justamente célebres. Quantos especialistas de moléstias mentais!
Vê-se que nos garantimos...
Dizem que os especialistas têm uma tendência natural a achar casos das suas especialidades mesmo onde estes não existem. Que íntimos diagnósticos farão de nós aqui os especialistas que acolhemos!? A discrição de bons colegas e o segredo profissional os obrigam a ocultá-los. Mas nós nos sentimos com certa segurança, vendo que por nós velam neuriatras e psiquiatras ao mesmo tempo eminentes e amigos...
Convosco fizemos exceção. Não se dirá que vos tenhamos escolhido, por causa da vossa especialidade.
Bem vistas as coisas, meu ilustre colega, vós não sois apenas expoente disto ou daquilo. Sois o grande orador que os vossos discursos revelam. Sois, sobretudo, isso sim, um magnífico expoente do talento aliado à força de vontade. Sois e sereis sempre o que quiserdes ser.
As provas disso são numerosas.
Há pouco, vossos colegas e vossos alunos fizeram-vos brilhante manifestação por causa de uma homenagem que vos foi prestada no estrangeiro e vos chamaram o chefe da escola obstétrica brasileira. É provável que a designação não encontre opositores.
No entanto, como chegastes a isso? Por causa de uma porta fechada antes de tempo.
Éreis interno do professor de clínica cirúrgica. Num dia, em que este ia fazer uma operação e em que, portanto, devíeis assistir a ela, chegastes quando a porta já estava fechada. A operação começara. Batestes. Tínheis direito de fazê-lo, porque não era vossa culpa, se o serviço fora iniciado meia hora antes do que estava marcado. O professor, que era irritadiço e neurastênico, gritou que não se abria a porta para malandros. Malandro! Partistes dali para o Diretor do Hospital e pedistes para ser removido. Como só havia uma vaga, e essa na Maternidade, para lá fostes.
Quando a porta se reabriu, já isso estava feito. Mas o professor que vos chamara malandro ficou indignado, e procurando o que dirigia a Maternidade, aconselhou-o a que não vos recebesse.
Era um pouco tarde. Ele já dera a permissão. Garantiu apenas ao colega que ignorava os fatos ocorridos com este e que, à primeira falta que cometêsseis, vos faria demitir. Recebeu-vos com tão grande má vontade que nem vos deu a mão a apertar, quando lhe estendestes a vossa.
Resolvestes então mostrar-lhe o que era um homem de talento e de força de vontade. Fizestes o vosso dever e mais do que o vosso dever. Fostes o mais assíduo dos internos. Nunca deixastes de assistir a uma operação. Vencestes primeiro a antipatia do professor. Obrigaste-lo depois a ser um verdadeiro admirador da vossa competência. Subistes. Brilhastes. Impusestes vosso nome.
E aí está como de um homem a quem chamaram malandro se fez um homem que hoje se chama o chefe da escola brasileira. Íeis ser um cirurgião talvez em outra especialidade; passastes a ser um ginecologista e obstetra. Mas o que se pode ter por certo é que, se a vaga de interno que achastes aberta tivesse sido em qualquer outra cadeira do hospital, o mesmo malandro mostraria a mesma força de vontade, tomaria do mesmo modo o primeiro lugar e com certeza se diria dele hoje que era o chefe da escola brasileira de outra especialidade. Porque vós sois daqueles que nunca fazem coisas incompletas.
Exemplo magnífico de talento e de força de vontade foi também o que destes, quando vos improvisastes advogado em uma causa célebre. É verdade que nela entrastes como médico. Mas o médico nesse caso precisava ser, sobretudo, advogado, – como o advogado que vos acompanhava tinha sido principalmente médico. É assim difícil saber o que fostes mais nessa ocasião. Aliás nela, como médico, saístes inteiramente de vossa especialidade.
O que se vê nessa admirável peça forense é um vigor formidável de argumentação. Tem-se a sensação de que tomais de cada vez uma pitadinha da acusação que combateis, que a pondes no fundo de um almofariz – e que a triturais, a esmoeis, a reduzis a pó finíssimo. Depois, com um sopro desdenhoso, fazeis tudo isso voar. Não resta coisa alguma... Se tirardes à parte esse vosso trabalho, podeis, aqui, deixar longe os vossos colegas médicos e sentar-vos perto dos advogados da Casa. Sereis duas vezes colega deles: como advogado e como acadêmico.
Essa causa tem mesmo para a nossa Academia uma certa curiosidade. Tratava-se de um médico acusado de haver envenenado a esposa. Faz-se a perícia legal e descobre-se nas vísceras da morta uma quantidade tal de mercúrio que daria para matar um batalhão.
Parecia que a prova material estava feita.
Mas o médico era um assistente de terapêutica, homem hábil e inteligente. Seria necessário, entretanto, que ele fosse um prodígio de estupidez e de incapacidade para procurar envenenar alguém com mercúrio, um dos venenos mais fáceis de reconhecer e dosar, quando tinha à mão, no seu laboratório, uma infinidade de outras armas de morte, quase impossíveis de serem reconhecidas. De mais, o excesso de dose era tão monstruoso que logo se via como a perícia médico-legal não podia ter sido regular.
O acusado teve para defendê-lo um acadêmico de ontem e o acadêmico de hoje. O acadêmico de ontem foi o nosso grande, o nosso querido e respeitável Inglês de Sousa, figura de rara e inquebrantável austeridade, mas que, para mostrar bem como estava certo da inocência do acusado, foi sentar-se ao seu lado no banco dos réus.
E de novo o digo: é impossível saber qual dos dois – o médico, que éreis vós, ou o advogado, que era Inglês de Sousa, – fez mais advocacia.
* * *
Quando eu evoco a vossa indomável energia e tenho quase desejo de lembrar que por acaso a etimologia do vosso nome vai bem com o vosso temperamento, penso no contraste que a certo respeito fazeis com o vosso antecessor. Porque, garantem os etimologistas, Fernando quer dizer “guerreiro audaz”, e embora não tivésseis nunca empreendido façanhas belicosas, é de guerreiro audaz que tendes o temperamento.
Vosso antecessor, de quem fiz estes um tão delicado perfil e de quem analisastes tão finamente a obra literária, não era assim. Vós sois naturalmente expansivo, impetuoso. Ele era macio, suave, de uma leve ironia sempre temperada de meiguice. Vós sois um homem de ação. Ele não o era.
Não me parece que ele tenha ido para a carreira literária por um deliberado esforço, nem que, se tivesse para ela encontrado grandes empeços, houvesse insistido. Não estava na sua natureza lutar energicamente.
É curioso, entretanto, notar que, logo ao nascer, achou quem tivesse por ele uma certa preocupação literária. Ou se não foi bem isso, foi coisa parecida.
Domício não devia chamar-se da Gama e sim – era este o seu nome de família – Domício Forneiro. Mas o padre que o batizou, e ficou sendo seu padrinho, achou o nome destituído de importância e resolveu passá-lo a Gama.
Forneiro e padeiro – são, entretanto, apelidos de família muito correntes em quase todas as línguas.
Os Fournier, Boulanger, Baker – não faltam em países de língua francesa e inglesa. Mas evidentemente o padre tinha razão: Forneiro é um nome menos ilustre, menos prestigioso que da Gama.
Os homens de letras sofrem muitas vezes, para bem ou para mal, a influência dos seus nomes de família. Anatole Thibaut, achando que decididamente Thibaut era um nome muito sem relevo, quis antes ser Anatole France. E que teve razão creio que poucos o hão de negar.
O pai de Domício não o queria, porém, para nenhuma carreira literária. Desejava que o rapaz fosse engenheiro. Felizmente, logo ao princípio do curso, houve um lente que o reprovou. Domício abandonou a engenharia. Muitos anos depois, já embaixador sempre que encontrava esse lente abraçava-o agradecido. Tinha sido o seu salvador. O provérbio banal: “há males que vêm para bem”, foi nesse momento justo. Com a sua aceitação mansa e resignada dos fatos, é possível que, se tivesse chegado ao fim da carreira em que o pai o pusera, nela ficasse enterrado.
Mais tarde ele teve outro insucesso salvador.
Para expô-lo, permiti que vos refira uma anedota, que pode ser um apólogo.
Conta-se que dois rapazes, sabendo estar vago o lugar de sacristão de uma igreja, a ele concorreram.
Um sabia e outro não sabia ler. O que sabia foi o preferido. O outro empregou-se em uma pequena venda que havia ao lado da igreja. Ficou sendo caixeiro.
Trabalhador e econômico, ia juntando dinheiro e depositando-o em um banco. Subiu de caixeiro a interessado e de interessado a patrão. Continuou a trabalhar e a guardar as suas economias no banco.
Um dia, vendo a possibilidade de comprar a casa vizinha da venda e fazer com que esta passasse a ser um grande armazém, pensou em obter do Banco um empréstimo. Foi pedi-lo. O diretor do Banco mandou que lhe trouxessem a conta do afortunado vendeiro. Examinando-a, verificou que ele tinha muito mais do que pedia. Estendendo-lhe a nota, mostrou-lha. O vendeiro lhe disse que não sabia ler. O diretor, admirado, exclamou:
– A que não teria chegado o senhor, se tivesse aprendido a ler!
– É um engano, Sr. Diretor. Se eu tivesse aprendido a ler, seria apenas o sacristão da igreja ao pé da minha venda...
Isso prova que os triunfos precoces são, às vezes, um mal.
Domício da Gama, quando muito moço, entrou em concurso para um lugar na Biblioteca Nacional. O seu concorrente foi um dos nossos atuais colegas aqui na Academia, diante do qual alguém contava, um dia, a anedota que acabo de referir. O nosso colega, ouvindo-a, comentou que por ocasião daquele concurso ele fora o concorrente que sabia ler e, por isso, ficara como sacristão, primeiro, no seu lugarzinho da Biblioteca Nacional, depois como professor, ao passo que Domício fez-se auxiliar de Rio Branco e de Joaquim Nabuco, passou a secretário de legação, a ministro plenipotenciário, a embaixador, a ministro de Estado.
Mas a comparação nada tem de exata. O nosso colega não ficou em sacristão. Na Biblioteca Nacional ele se fez o erudito prodigioso que é, o mestre cuja palavra se tornou decisiva nas questões da nossa língua, um dos espíritos que mais aliam estas duas qualidades quase sempre antagônicas: uma erudição profunda e uma versatilidade imensa.
Por outro lado, Domício sabia ler... Tinha na ocasião do concurso, menos competência que o seu competidor, mas era um estudioso.
O que se pôde considerar como certo é que, se tivesse obtido o lugar que cobiçou, seu temperamento, absolutamente destituído de combatividade, o levaria provavelmente a acomodar-se à carreira administrativa.
Foram a reprovação na Politécnica e o insucesso na Biblioteca que o orientaram de outro modo.
Vós contastes o que com ele sucedeu. Seguiu para Paris como correspondente da Gazeta de Notícias. Aí se fez amigo de Eça de Queirós e de Eduardo Prado, aí conheceu Rio Branco. Isso decidiu a sua vida, levando-o a cultivar os seus dons literários.
O interessante, porém, é que a sua íntima colaboração com Rio Branco veio menos porque Domício tivesse aqueles dons, do que por motivo bem diverso: porque sabia desenhar. Foi a sua ciência de cartografia que seduziu Rio Branco. E, assim, o desejo do pai de que ele viesse a ser engenheiro, embora interrompido por uma oportuna e feliz reprovação, sempre serviu para alguma coisa...
Domício foi durante muito tempo o braço direito de Rio Branco. Ele punha um pouco de ordem na incessante, mas desordenada atividade do nosso glorioso chanceler.
Em Petrópolis, viviam os dois na mesma casa. Rio Branco, que nunca teve noção exata de tempo, e tanto trabalhava de dia como de noite, tanto dormia de noite como de dia, às vezes, às 6 ou 7 da manhã, passava pelo jardim diante das janelas dos aposentos de Domício. Um dia este o interpelou:
– Acordado tão cedo, Barão?
E Rio Branco, muito naturalmente:
– Não; agora é que vou deitar-me.
Daí por diante, quando o Barão passava a essas horas matinais, Domício o interrogava se ia para a cama ou dela saía. E as respostas se alternavam sem nenhum método: ora uma, ora outra...
Mais tarde, ele acabou por ser, como ministro, o sucessor de Rio Branco. Creio que foi um bem que ocupasse esse cargo por pouco tempo, porque não acredito que nele viesse a brilhar. Era bom demais para ter a energia necessária. Governar é, sobretudo, saber dizer “não”, e eu penso que ele seria incapaz de fazer essa desagradável operação tanto quanto seria preciso.
Lembro-me do dia em que nos anunciou, no edifício da velha Academia, que ia deixar esse posto. Ele era Ministro do Exterior do vice-presidente da República em exercício, e o Presidente efetivo, recém-eleito, ia assumir o poder.
Domício nos contou então que não continuaria como ministro.
Era antes da sessão. Conversávamos despreocupadamente. Um de nós lhe afirmou: “Pois sinto muito”. Domício acrescentou: sorrindo: “E eu também”. Foi então que, voltando-me para ele, disse-lhe: “Pois eu não sinto nada; fico até muito contente.” Domício admirou-se: “Ó senhor! que mal lhe fiz eu?”
Expus-lhe então a razão do que dissera:
– V. não me fez mal algum. Mas é exatamente porque sou e quero continuar a ser seu amigo que prefiro vê-lo fora do Ministério. Nele eu sinto que seria forçado a combatê-lo.
Mas, de fato, creio que, mesmo combatendo-o, não deixaria de ser seu amigo, porque Domício era meigo, tolerante, incapaz de gestos violentos.
Nunca um autor se caracterizou melhor pelo título de suas obras: Histórias Curtas e Contos a Meia-Tinta.
No primeiro, há a clara reminiscência da língua inglesa, cuja literatura ele prezava imensamente. Os ingleses chamam aos contos “histórias curtas”, short stories. Aliás, Domício, por polidez, por delicadeza, pelo temor que manifestava de ser importuno, era sempre breve. E por polidez, por delicadeza, pelo temor que manifestava de ser importuno, era sempre breve, era o homem das meias-tintas, dos tons esmaecidos. Ninguém melhor do que ele para poder repetir sinceramente os versos de Verlaine:
Car nous voulons la nuance encore;
pas la couleur, rien que la nuance.
Se tivésseis feito parte da nossa Companhia ao tempo em que ele era vivo, teríeis tido prazer em lidar com esse espírito de uma tão perfeita elegância e discrição. Tinha não só a elegância de corpo (foi até o fim da vida delgado, esbelto, de uma perfeita e natural fidalguia de gestos e palavras), mas também a elegância moral em tudo e por tudo.
Eu conheço a piedosa frase latina, aconselhando a que dos mortos só se fale bem: de mortuis nisi bene. Mas quando alguém quisesse, como faziam os egípcios, instituir à beira da sua sepultura recém-aberta um tribunal imparcial, em que tanto se alegasse o que ele fizera de bom como de mau, nenhum acusador apareceria.
* * *
Vossas obras, Sr. Fernando Magalhães, são mais difíceis de analisar que as do vosso antecessor, por dois motivos ao menos: primeiro, por sua natureza técnica; depois, porque sois, sobretudo, um orador.
No que diz respeito à parte técnica, vede bem o meu embaraço. É muito fácil e muito agradável neste recinto citar trechos de contos e de romances, citar, sobretudo, poesias. Mas como aqui aludir à maioria dos vossos trabalhos?
Dantes havia, nesses casos difíceis, dois recursos.
Um era para o latim, que Boileau dizia poder afrontar mesmo os ouvidos mais pudicos: “Le latin dans les mots brave l’honnêteté.” Mas o latim saiu de moda. Ninguém o preza. Ninguém o entende.
O outro recurso era para que aquelas retorcidas perífrases, que fizeram as delícias dos poetas clássicos. Não se tratava de nada um pouco suspeito senão por circunlóquios e alusões. Se fosse assim, eu falaria, só entendido pelos iniciados, na operação a que mais trabalhos tendes dedicado. Grandiloqüente, em um magnífico alexandrino, eu aludiria “à grave operação que trouxe à vida César”. Graças a isso, um caso complicado de vossa especialidade assumiria até uma aparência nobre e poética, pareceria uma página da história de Roma.
Mas as perífrases saíram também de moda. Victor Hugo, citando o próprio exemplo, dizia que era preciso chamar as cousas pelo seu nome:
J’ai nommé le cochon par son nom. Pourquoi pas?
E aí está a grande dificuldade de aludir aqui neste recinto à maioria dos vossos trabalhos.
Foi, não para vós, mas para mim, agora, neste momento, uma calamidade que quando vos fecharam a porta, por trás da qual vos chamaram malandro, a que achastes aberta não tenha sido a de doenças nervosas, a de doenças de olhos, a de doenças do coração, a de qualquer outra especialidade.
Apesar de tudo, mesmo deixando de lado vossos trabalhos médicos, há a dificuldade de que sois, principalmente, no terreno literário, um orador. Um orador devia ser citado não por palavras ditas por um estranho, mas por meio de um disco de gramofone em que ele próprio as tivesse feito gravar. Dia virá em que isso se possa fazer pelo cinematógrafo falante.
O procurador criminal, que fez condenar Oscar Wilde, por causa de algumas de suas poesias, leu-as no tribunal e, acabando, perguntou:
– Há quem chame a isto poesias?
Wilde respondeu simplesmente:
– Lidas assim, por quem não sabe ler, incontestavelmente não. Se, com a minha voz, com a minha dicção, com a minha presença, eu lesse exemplos de vossa eloqüência, os que os ouvissem perguntariam assombrados:
– Pois isso é eloqüência?
E certamente não seria.
O que há de belo no grande orador é que ele, como o grande cantor, é o artista e é o instrumento. O romance, o conto, a poesia se materializam no livro que corre mundo, e cada um interpreta a seu modo. É mesmo freqüente encontrar poetas que não sabem recitar os próprios trabalhos. Mas o orador faz corpo com a obra que produz. Sua palavra precisa estar cheia da sua pessoa: da sua voz, de seus gestos, da sua aparência. O discurso feito por escrito, para ser lido, é fruta de conserva, fruta que vem em lata. Falta-lhe perfume e frescura.
Vós sois um orador em todos os gêneros, que a eloqüência comporta – se realmente vale a pena pensar em gêneros diversos de eloqüência.
Por mim eu creio que as várias classificações da eloqüência não têm importância alguma. Disse um autor italiano que o essencial é persuadir, convencer e comover. E é isso mesmo. Desde que se chegue a tal resultado, os meios empregados pouco importam.
Vós tendes a eloqüência do professor e a do tribuno. Já provastes ter até a eloqüência forense.
Duas vezes, com intervalo de seis anos, eu vos dei, na Faculdade em que professais, meus filhos como alunos. Durante todo o curso deles, quando voltavam, faziam-me o relatório do que lhes sucedera durante o dia nas suas aulas. Quase sempre, por minha vez, eu lia as lições que iam dar – não, é claro, porque pretendesse ficar sabendo a fundo a matéria. Queria, porém, diminuir-lhes o trabalho quando tivessem de expor-me qualquer coisa técnica. Buscava assim tornar-lhes mais fácil a tarefa de descer até minha ignorância. E duas vezes, com seis anos de intervalo, penso no entusiasmo com que ambos me falavam de vossas aulas:
– O Fernando hoje esteve magnífico!
– O Fernando hoje esteve esplêndido!
– Que bela aula, a do Fernando!
E expunham-me claramente não só a matéria sobre a qual fora a aula, como as ovações que havíeis recebido.
Não se tenha por pouco a opinião dos alunos a respeito dos mestres. Geralmente ela é decisiva. Geralmente ela é a de uma perfeita justiça. O mau professor que os alunos não compreendem, não por causa deles, mas por causa da incapacidade pedagógica do docente, que não sabe transmitir a sua ciência, acredita, às vezes, que prova o seu alto mérito, reprovando em massa esses alunos, aos quais prejudica sem instruir.
Vós não tendes esse tipo pedagógico: suscitais o entusiasmo nos que vos ouvem, e eles estudam com prazer para se sentirem dignos de quem os ensina.
* * *
No conjunto de vossos discursos há duas preocupações que dominam tudo. Por um lado, sois o implacável inimigo de todos os que procuram restringir de qualquer modo a natalidade; por outro, procurais suscitar todas as medidas possíveis para favorecer as mães, quer no período pré-natal, quer nos primeiros tempos depois do nascimento dos filhos.
Tanto estou de pleno acordo convosco nesta segunda parte, como em profundo desacordo quanto à primeira.
Na vossa apologia fervorosa de medidas radicais contra os que buscam evitar a maternidade, queríeis mesmo medidas tão draconianas para esses casos, que já tivestes de entrar em luta com o mais ilustre de vossos colegas, que também o é nosso, e se revela sempre propenso à tolerância e à brandura.
A maternidade é uma bela coisa. Mas só é bela quando voluntária, quando desejada, quando não se torna, como freqüentemente acontece, uma verdadeira calamidade, quase, às vezes, uma maldição para os pais, para os irmãos, para os próprios filhos, condenados inocentes à miséria, à ignorância, ao sofrimento.
Diz-se que é um dever ter filhos, ter muitos filhos, aceitar pelo menos os que a Natureza nos quer dar. E fala-se muito, como vós fazeis freqüentemente, nos direitos dos nascituros.
Não! quando os pais não podem, ou não querem ter filhos, quando não estão aptos para lhes assegurar saúde, educação, bem estar, são verdadeiros criminosos em atirar ao mundo os que nele vêm apenas sofrer.
Fala-se em maternidade – e a gente parece que vê esse nome escrito com uma inicial maiúscula. Evocam-se quadros célebres, em muitos dos quais há a reminiscência das representações da Virgem Maria com Jesus Cristo ao colo. É um mimo! É uma beleza! A mãe sustém a criancinha e olha-a embevecida. Às vezes, outros pintam a mãe sentada, entregue a algum labor doméstico, enquanto a criança brinca no chão, despreocupada. Quanta suavidade! Quanta poesia! As estátuas de mães carregando os filhinhos são numerosas. E canta-se tudo isso em versos, às vezes magníficos.
Mas a realidade é essa? Eu conheço bem o hospital que dirigis. Vós sabeis que o tenho visto, dias e dias. Tenho nele admirado os dois traços que vos distinguem: um entusiasmo sem limites, uma caridade sem par. Médicos, internos, enfermeiras – tudo vibra, alegre, na faina incansável de fazer o bem, de auxiliar os que sofrem.
Mas quando as pobres mães, que ali vão ter, saem com os filhinhos recém-nascidos, quantas não perguntam com angústia se alguém as quererá com aquela carga! Quantas não indagam como se alimentarão no dia seguinte esses filhinhos!
Fora da poesia, na realidade trágica das coisas, quem quisesse fazer um díptico, teria de pôr de um lado as grandes maternidades, como as que dirigis, despejando nas ruas grupos de mães pobres com os filhinhos nos braços, e, do outro lado, no segundo painel, o Tribunal de Menores, punindo os pequenos vagabundos, de que a miséria fará amanhã criminosos e revoltados, o hospital em que entram mães e filhos tuberculosos.
Não há sentimentalismo que prevaleça contra essas terríveis realidades.
Georges de Porto-Riche, o grande dramaturgo francês, tem uns versos dolorosos sobre a sua infância. Diz ele que os pais o apelidaram “De mais” – “De trop”. Era o indesejado. Era o filho que se aturava, porque tinha vindo, mas cuja vinda ninguém quisera.
Por que condenar uma criança a essa miséria e a essa humilhação?
A Bíblia disse: “Crescei e multiplicai-vos!” Mas não disse que proveria ao sustento e à educação das gerações infinitas que se fossem criando.
A terra não é elástica. Por força, se chegará a um certo limite, que a sua população não poderá ultrapassar.
Dantes, esperava-se que as guerras, de tempos a tempos, restabelecessem o equilíbrio do mundo. É verdade que seria por um meio cruel, por grandes carnificinas. Mas fosse como fosse, obter-se-ia o resultado. Nós vimos, entretanto, o que sucedeu na última guerra. Foi terrível, foi atrozmente devastadora. Ao mesmo tempo que ela, desencadeou-se uma epidemia tremenda, ainda mais devastadora que a guerra. Chega-se ao fim; somam-se essas duas incomparáveis devastações e ainda assim se vê que a população do mundo continua a aumentar.
No ponto de progressão em que estamos, o meio cruel já não é, portanto, bastante.
Os primeiros exploradores que, no fim do século XVIII e princípio do XIX, foram a certas ilhas da Oceania, acharam-nas povoadas. Os habitantes primitivos deviam ter chegado ali por acaso, perdidos no oceano em frágeis embarcações. Não tinham comunicações com o exterior, com esses pontos longínquos de onde só tinham vindo, trazidos talvez por alguma tempestade. Não sabiam, não podiam construir meios de viajar de umas ilhas para as outras. Cada uma delas constituía, desse modo, um pequeno mundo isolado e inabordável.
A regra em quase todas era o infanticídio implacável. Regra moral, regra justa, regra que todos aplaudiam. Como deixar chegar um número indefinido de novos seres vivos, se a ilha mal comportava o escasso alimento para os que nela viviam? O infanticídio era para os habitantes uma fórmula natural de legítima defesa.
A Terra é também uma ilha no vasto oceano do Universo. Também dela não há comunicação para nenhuma outra das similares perdidas pelo espaço. É absurdo deixar povoar essa ilha indefinidamente. E implacavelmente as estatísticas mostram que o ponto de saturação está quase a chegar. É isso o que precisamos impedir, não – é claro – pelos meios bárbaros de outro tempo.
Nós olhamos para o nosso país, ainda tão pouco habitado, e temos a sensação de que a sua superpopulação inda vem longe. Mas a questão não é deste ou daquele país: é do conjunto do mundo.
Por um lado, a ciência já conseguiu diminuir a mortalidade infantil em proporções formidáveis. Em muitos lugares essa diminuição, em comparação com as taxas de mortalidade de outros tempos, é superior a cinqüenta por cento. Por outro lado, cada vez mais se prolonga a vida humana. A maré sobe assim por toda parte. Gritar ainda: “Crescei! Crescei mais! Multiplicai-vos!” é inadmissível!
Neste momento, o problema mais grave, mais pavorosamente trágico que há é exatamente esse: o do crescimento da população, porque as classes superiores já há muito limitaram, e cada vez limitam mais, a sua progênie, ao passo que as classes inferiores continuam a multiplicar-se abundantemente. Isso acontece em todo o mundo. Na cidade em que nós estamos, como nas outras, o fato é o mesmo: toma-se uma estatística por bairros, dá-se essa estatística a qualquer estrangeiro com a indicação da porcentagem da natalidade em cada um deles – e pede-se que indique quais os bairros pobres e quais os ricos. Sem hesitação, embora desconheça de todo a cidade, ele o pode fazer: os bairros pobres são aqueles em que a natalidade é maior, os ricos aqueles em que ela é menor.
Moralistas austeros se indignam porque se diz isto. Hipócritas! São dos que pregam uma coisa e fazem outra muito diversa. E ainda uma vez a estatística permite desmascará-los. Tomem-se as cifras da natalidade, classe por classe, e ver-se-á que as classes mais cultas, as mais ilustradas restringem o mais que podem a sua descendência. Quando essa estatística é de países protestantes em que os pastores, os sacerdotes, podem casar-se, ainda a gente sorri mais francamente, porque vê que a classe dos pastores entra como as outras no mesmo movimento: também ela é das de natalidade restrita.
A situação é, portanto, esta: nós estamos jogando a existência da humanidade; estamos, pelo menos, jogando a sua cultura, a sua civilização, preparando a mais terrível das invasões de bárbaros. Não são os bárbaros que vêm de fora. São os das classes incultas, das classes inferiores, que incitamos a crescer, para explorar-lhes a miséria, ao passo que, de dia para dia, as classes superiores crescem menos. Essa desproporção aumenta a cada instante.
Somos como um grupo de domadores loucos, que vivessem entre feras. As feras estão neste momento domesticadas. Mas os domadores, ao passo que não se multiplicam, incitam cada vez mais as feras a crescer, a multiplicar-se. Dentro em breve elas serão tantas, e eles tão poucos, que por força elas os tragarão.
Não, meu ilustre colega, eu não posso crer que tenhais razão na vossa propaganda contra os que não querem crescer e multiplicar-se; antes, imagino que, à semelhança do que já se faz no mundo, na única nação da Europa que é regida por uma mulher, na Holanda, se devia ensinar às classes pobres os meios de diminuir a sua assustadora progressão.
Nós, os domadores loucos, estamos cada vez em menor proporção diante das feras...
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Mas, se o meu desacordo é absoluto quanto à vossa implacável perseguição contra os que querem diminuir a natalidade, é com entusiasmo que penso na campanha de toda nobreza, de toda beleza, a que vos dedicastes: a proteção às mulheres pobres, antes e depois do nascimento dos filhos.
E vós não sois apenas o homem que faz frases a esse respeito. Pondes as frases em ação.
Não incitar ninguém a que se multiplique; mas, quando a maternidade vem, cercá-la de carinho, suavizar-lhe as amarguras.
É uma cena que vale a pena ser vista – e eu a vi com admiração muitas vezes – à sala do hospital que dirigis, quando nela entrais.
Um minuto antes de vossa chegada, são rostos tristes de gente paupérrima, de gente que se prepara, na previsão de sofrimentos atrozes, para todas as dores, todas as angústias.
Entrais: falais a uma, falais a outra; tendes aqui um agrado, ali um carinho, mais além uma palavra de consolação, um claro sorriso vibrante e expansivo. Dentro em pouco, aquele conjunto de infelizes, pedindo admissão num hospital, que é sempre um espetáculo de miséria infinitamente triste, está inteiramente transformado. Há a esperança em todos os rostos. Há sorrisos. Há um ar geral de satisfação. E como todos os vossos auxiliares estão, por assim dizer, afinados no diapasão do vosso entusiasmo, sabeis, até mesmo nesse inferno, fazer nascer em torno de vós a alegria e a confiança.
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Entre as vossas obras há uma que me parece curiosíssima. É A Obstetrícia no Brasil. Os que a encontram na lista dos vossos trabalhos, acham natural que tenhais escrito a tal respeito, pois que é assunto de vossa especialidade. Mas nada menos natural que esse livro. Esse livro é uma prova extraordinária – mais uma! – de vossa maleabilidade de espírito. Porque, em geral, se tem a idéia do orador-nato, do vosso tipo, como um homem impetuoso, um improvisador, mais feito para os arrebatamentos da tribuna que para a calma das investigações de bibliotecas, de poeirentos arquivos.
Por isso mesmo, para escrever vossa história da obstetrícia brasileira, parece que aproveitastes o fato de serdes professor da Escola Dramática, fostes ao depósito de acessórios, tomastes lá uma grande cabeleira branca, longas barbas da mesma cor e, vestido como o lendário Dr. Fausto, antes de ser remoçado, andastes a pesquisar bibliotecas e arquivos, catando fatos, citações, coisas mesmo das mais pequenas, de uma erudição segura e minuciosa.
Sem vosso nome no frontispício, ninguém acreditaria que esse livro fosse de vossa autoria.
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Meu ilustre colega, vós entrais aqui como um grande e autêntico homem de letras; mas, sobretudo, como representante das belas-letras que muitos consideram a mais difícil: a eloqüência.
E, de fato, ela é admirável. O romance, o conto, o livro sob qualquer forma tomam os leitores separadamente, um a um, aqui e ali, longe do autor. Na peça de teatro o autor se esconde por trás dos atores. O orador, esse, tem a coragem de enfrentar a multidão, um contra muitos, tem a audácia de dominá-la, de fazê-la vibrar, de transformar-lhe os sentimentos. Saber achar a forma precisa para exprimir qualquer idéia – já é um alto mérito. Muitas idéias sublimes têm talvez morrido porque os seus autores não as souberam exprimir convenientemente. Mas, ainda as idéias mais claramente expostas, nem sempre acham o terreno próprio para germinar. O milagre dos grandes oradores é que eles semeiam as idéias, mas semeiam fazendo com que elas germinem imediatamente. Eles são como esses lendários fakires da Índia a que se atribui tal milagre.
Dos da Índia se refere que se ajoelham, silenciosos, ao pé da terra em que puseram a semente, estendem as mãos, ficam hirtos, numa atitude hierática, e a semente brota, germina... Tudo isso é, porém, pura lenda. Mas os fakires da oratória, como vós, lançam a semente com as palavras e as idéias caem nos cérebros e nos corações, as idéias germinam, as idéias brotam, as idéias florescem, as idéias frutificam, ali, sob os seus olhos, imediatamente. Esse é um milagre autêntico e vós o fazeis freqüentemente.
Professor, tendes a eloqüência da cátedra: o dom, não apenas de transmitir a vossos alunos as noções científicas, mas de dar-lhes com elas o amor, o entusiasmo pela ciência.
Advogado, que um dia quisestes ser, soubestes tomar juiz e jurados, que eram claramente infensos a certo acusado, contra o qual se ia cometer uma iniqüidade, e transformá-los.
Conferencista, sabeis escolher qualquer assunto e forçar o auditório a partilhar os vossos sentimentos. Sabeis falar a doutos e a indoutos: a grandes assembléias da fina flor intelectual de nossa terra, como a que acaba de vos ouvir, e à pobre gente inculta com que lidais, no exercício de vossa profissão, nas grandes obras de assistência social, que criastes e que dirigis.
Por tudo isso, meu nobre colega, é como a um dos mais altos expoentes da mentalidade brasileira, sob as suas formas mais variadas, que nós vos recebemos com orgulho.