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Oposição é direito dos partidos, mas é preciso que haja respeito a adversário

 

Está estabelecido no regime democrático que o partido derrotado nas eleições terá o direito de fazer oposição ao vencedor, tornado governo. Por isso mesmo, após perder a Presidência da República e tornar-se oposição, o pronunciamento de Dilma Rousseff, prometendo, ela e seu partido, oporem-se implacavelmente ao governo de Michel Temer, foi, sem dúvida, legítimo.

Pois, ao ouvi-la, lembrei-me da reação dela e do PT aos questionamentos feitos, após a eleições de 2014, pelo PSDB, alegando que Dilma Rousseff mentira durante a campanha eleitoral ao dizer que a situação econômica do país era ótima.

A reação dela e do PT, naquele momento, foi afirmar que o adversário queria um terceiro turno, ou seja, pretendia dar um golpe, muito embora fosse verdade o que alegara. O impeachment também foi considerado golpe, ainda que previsto na Constituição.

E, embora tenha obedecido às normas legais, continua sendo chamado de golpe por eles. A conclusão inevitável é que só o PT tem direito a exercer oposição; os adversários, não, estes são golpistas.

Agora mesmo isso se repetiu durante todo o processo do impeachment que, em sua etapa final, foi comandado pelo então presidente do STF, Ricardo Lewandowski.

A certa altura, um dos adversários de Dilma a interpelou: "A senhora está chamando de golpe um processo comandado pelo presidente do Supremo?" Tomada de surpresa, ela respondeu: "Até aqui não é golpe, mas se aprovarem o impeachment, será golpe".

Difícil de entender, não? De fato, ela acabara de admitir que o processo era legal, pois não é a sentença final, contra ou a favor, que tira a legitimidade de um processo.

Mas o PT é assim mesmo. Só vale o que lhe favorece; o contrário é coisa de gente safada ou vendida, de quem está a serviço dos exploradores do povo pobre.

Aí você pergunta: e Marcelo Odebrecht e Léo Pinheiro, amigos de Lula, são por acaso defensores dos pobres? Disso os defensores do populismo não falam.

Nas ruas, o pessoal da CUT, do MST, entre outros, clama pela expulsão de Temer e pela volta de Dilma. Ninguém fala do desastre que foi seu governo. Voltar Dilma, para quê, se ela já não governava, enquanto o desemprego atingia a casa dos 12 milhões, a inflação crescia, a indústria e o comércio fechavam as portas. Foi Dilma cair, as coisas começaram a melhorar. Ainda pouco e lentamente, pois o desastre que ela provocou está entre os piores de nossa história. E ainda assim, há quem grite: "Volta Dilma". Parece piada, porque a verdade é que nem o PT deseja isso; aliás, nem ela mesma, já que, antes do impeachment, propunha um plebiscito e novas eleições.

Como dissemos no começo desta crônica, oposição a qualquer governo é um direito dos partidos. No entanto, esse direito está essencialmente vinculado ao respeito ao direito do adversário e submetido a um fator decisivo, que é o interesse nacional.

Os partidos existem para zelar por ele, para cuidar dele, para preservá-lo e ampliá-lo. Nisso está compreendido o crescimento econômico e cultural, a preservação e melhoria das condições de vida dos cidadãos, o que implica no aumento qualitativo da renda familiar mas também no respeito à liberdade de opinião e de ação política.

Logo, tanto esteja o partido no governo ou na oposição, a sua função é cuidar do interesse de todos, não apenas do interesse partidário.

Digo isso porque está se criando uma situação preocupante, que leva as pessoas a temerem por sua segurança pessoal, particularmente aqueles que, pela atuação profissional, manifestaram opinião a favor do impeachment.

Nas universidades, nas reuniões culturais e esportivas, essas pessoas se sentem ameaçadas. Por outro lado, ao que tudo indica, os petistas se dispõem a inviabilizar o governo Temer, o que seria de fato impedir a superação da crise econômica criada por Dilma, que levou o país à situação em que está.

Não se trata, no entanto, de não fazer oposição, mas sim de fazê-la, visando o interesse nacional. 

 
 
Folha de São Paulo, 18/09/2016