Nesses dias únicos, não registramos, em Brasília, apenas a “prova de fogo” de nosso amadurecimento democrático no julgamento do impeachment. Deparamos, também, por outro lado, a emergência, entre os senadores, de um discurso básico que, significativamente, libertou as convicções condenatórias de seu probatório.
Fomos a um arrazoado em que se davam os supostos como fatos consumados, a prescindir do seu reconhecimento, como pede a tarefa de julgar.
Brotou, cada vez mais, no processo, esse discurso na continuidade acrítica das suas presunções, remetidas à totalidade do alegado, sem o pari passu da sua real avaliação. É o que acontece com as falas da culpabilidade, relacionadas, de saída, à “ideia de obra” do delito em curso, tantas vezes invocada pelos parlamentares: supre-se, por aí, toda a consideração de detalhes, a avaliar uma conduta, por uma arguida mas não provada intencionalidade do feito.
A referência à “ideia de obra” repete-se nas tiradas acusatórias, dando por indiscutível toda a trama que, presumidamente, a armaria. Da mesma forma, o discurso dos senadores repete a certeza da “transparência” dos comportamentos condenados, na absoluta assimilação, à ação suposta, da ação, de fato, realizada.
Tanto avançou o processo do impeachment, tanto mais foi ao embalo da sua condução, e as acusações trocaram o conteúdo do alegado pelo exame da correção, ou não, do seu rito.
Viu-se, sim, como pano de fundo, o teatro desse protagonismo dos senadores, todos voltados para esse momento de glória, na retórica das suas convicções, ao referirem-se, também, ao seu eleitorado ou às suas credenciais ao reconhecimento nacional.
O desfecho do impeachment agrega à cultura política do país um verdadeiro novo pacto sobre o que seja a credibilidade da fala parlamentar. Passa, todo, à força da crença o que deveria avançar pela pertinácia das evidências. E se consolida na tirania do dito, na homogeneidade crescente dos discursos, na força de suas palavras, frente à expectativa da justiça, por que clamam.