Vivemos um momento particularmente violento e que, ao mesmo tempo, parece indicar o fim de uma época de relativa estabilidade e o começo de outra simplesmente imprevisível.
Isso se deve, entre outros fatores, creio eu, à globalização da informação, em função da qual todos nós vivemos tudo ao mesmo tempo.
Se esse conhecimento instantâneo de tudo que ocorre em todos os pontos do planeta nos aproxima a todos, por outro lado, certas manifestações de revolta, que desbordam para a violência, passam a ser imitadas e, assim, se alastram, sem controle por todos os continentes e países.
Esse é um exemplo das consequências provocadas por essa possibilidade de comunicação planetária. Mas há outros, e um deles é a cooptação de jovens por grupos terroristas que os induzem à prática de atentados dos quais resultam a morte, muitas vezes, de dezenas e até centenas de pessoas.
Os exemplos se multiplicam com uma frequência assustadora. Recentemente, mal os cidadãos se refaziam do atentado ocorrido no aeroporto de Istambul e já eram de novo chocados com o massacre quase uma centena de inocentes em Nice, cidade de veraneio do sul da França. Agora, a polícia brasileira deteve dez indivíduos que se articularam para um possível ação terrorista durante a próxima Olimpíada, no Rio.
Diante de tais fatos, que provocam a morte indiscriminada de milhares de crianças, viajantes e turistas, enfim de pessoas que os terroristas sequer sabem quem são, nossa perplexidade só aumenta com a crescente gratuidade desses massacres e, inevitavelmente, nos perguntamos qual o real propósito de seus autores.
Sabemos da existência de organizações terroristas, como o Estado Islâmico, que se intitula defensor do verdadeiro islamismo e que, em nome do fanatismo religioso, considera-se autorizado à prática de homicídios em massa.
O componente religioso dessas práticas está evidente no fato de que, com frequência, os autores de tais atentados são eles próprios vítimas de tais ações, na condição de homens-bomba. No entanto, se dão a vida a essa causa islâmica, é porque acreditam que, com isso, serão recompensados, depois da morte, com o paraíso.
E é em nome de uma tal concepção político-religiosa que essa facção intitulada Estado Islâmico pretendeu, como o próprio nome indica, impor sua convicção ao povo muçulmano e, com isso, criar um Estado hegemônico, capaz de todos submeter aos valores religiosos do seu islamismo, ou seja, à maneira como o concebe.
A verdade, porém, é que semelhante opção dificilmente alcança seus objetivos. Como o próprio Estado Islâmico demonstra, tal proposta, embora consiga a adesão de certo número de fiéis, é pouco provável que conquiste o apoio da maioria, razão porque fracassará em seu objetivo maior.
Assim foi que, após a conquista de diversos territórios no Iraque e na Síria, já agora perdeu a maior parte deles e, sem dúvida alguma, perderá o resto.
É que, como a experiência nos ensina, viver é conviver e, por isso, quem se arvora em dono exclusivo da verdade termina por isolar-se e entrar em conflito com os demais.
Pode ocorrer que, nos primeiros momentos, uma atitude radical como a desse grupo atraia a adesão de um número considerável de pessoas. No entanto, como a realidade é por si mesma complexa,um tal projeto eivado de fanatismo está condenado à derrota.
E é o que ocorre, agora, com o Estado Islâmico que, por seu sectarismo, provocou a união dos adversários contra si. Aliás, a maior prova disso é o aumento do número de atentados terroristas, de algum tempo para cá. Esse é o recurso de que se vale para ocultar o fracasso de sua tentativa de criar um estado hegemônico no mundo islâmico.
De minha parte, digo a vocês que esses atentados nunca me iludiram, pela simples razão de que só quem está perdido lança mão de tais recursos. Ninguém derrota os seus adversários lançando mão de atos terroristas que, se massacram inocentes, não conquistam o poder nem se mantêm nele. Atentado é, na verdade, recurso de derrotado.