Seria cômico se não fosse trágico. A atual situação política é um saco de gatos em que todos miam enquanto o país parece naufragar num mar de corrupção generalizada. Há exceções, mas o grosso da manada está dependente de falcatruas em que delatores e delatados se acusam entre si, ao mesmo tempo em que a nação mergulha na "città dolente" que Dante colocou na porta do inferno.
O Brasil já passou por crises iguais e até piores, bastando lembrar o suicídio de Getúlio Vargas e o movimento militar de 1964. Contudo, nesses casos, faltou o componente cômico que mantém a plateia consumidora num estado de permanente curiosidade para saber o final da novela. Um final que inclui personagens anedóticos, como Tiririca, que canta um forró numa reunião de políticos, e o Congresso exibe malabarismos que certamente darão em nada.
Por mais que acusadores e acusados se esbofem em clarificar os escândalos que nem sempre são inéditos, a impressão indica que o país nunca esteve tão exposto internacional e internamente às críticas e até mesmo às zombarias que colocam o Brasil na boca das Matildes.
Temos uma presidente afastada e um presidente interino que em poucas semanas perdeu três ministros recém-nomeados.
Nenhum político, empresário ou administrador está livre de uma delação nem sempre provada, mas possível. Não só da cúpula (e cópula) atual, como no passado. Todos são suspeitos de alguma bandalheira que teve Pero Vaz Caminha como patrono, quando transmitiu ao rei de Portugal nossas deficiências e até excelências, como o sexo cerradinho de nossas índias.
Desconfio dos milhões de dólares que, por exemplo, subornaram um presidente da Câmara cuja caneta se limita aos atos e fatos de um dos poderes da República.