Já ensinava o ex-presidente do PT José Genoíno, nos tempos em que ainda não fora condenado pelo mensalão: uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. Com isso queria dizer que situações semelhantes poderiam ter conseqüências distintas, como estamos vendo hoje.
Não há dúvidas de que o governo Michel Temer começou atabalhoado, cheio de arestas a aparar. Dois ministros acabaram demitidos em menos de 20 dias, o que não pode ser considerado normal. Mas isso não quer dizer que o governo interino esteja fadado ao fracasso.
O governo de Itamar Franco também teve lá seus percalços, e nada menos que quatro ministros da Fazenda em seis meses. E o que dizer da presidente afastada? Nada menos que oito ministros foram demitidos no seu segundo mandato, numa sequência de escândalos de corrupção no primeiro ano de seu segundo mandato.
Do limão João Santana, ainda fora da cadeia, fez uma limonada e cunhou Dilma como “a faxineira”, que não tolerava escândalos de corrupção. Agora sabemos que muito antes a corrupção corria solta na Petrobras, e o próprio Santana havia sido pago pela campanha eleitoral com dinheiro da Odebrecht desviado da estatal, a pedido, segundo Sarney revelou nas gravações de Sérgio Machado, da própria presidente.
A delação premiada que a empreiteira está acertando com a Procuradoria-Geral da República esclarecerá a mando de quem o pagamento foi feito, pois a Polícia Federal já encontrou documentos provando que eles existiram. A farsa da “faxineira ética” não durou muito, pois logo as pressões fizeram com que os mesmos partidos banidos do governo por corrupção voltassem, em certos casos para o mesmo ministério, embora com outros nomes.
As demissões no primeiro escalão do governo Temer pelo menos até o momento obedecem a um padrão: os ministros pegos em situações irregulares acabam pedindo demissão, o que, se por um lado indica que Temer não quer criar constrangimentos para eles ou seus padrinhos, por outro tem conseguido se livrar dos problemas sem, aparentemente, abalar sua base de apoio no Congresso.
Vai se equilibrando nessa linha tênue entre o combate à corrupção e os que são apanhados tramando contra Lava-Jato. Dilma, depois de renegar a “faxina ética”, passou a fazer pior: montou em seu ministério, pouco antes de sair, um esquema de proteção aos possíveis alvos das investigações de Curitiba.
Tentou dar foro privilegiado ao ex-presidente Lula no Gabinete Civil, inventou um ministério para proteger Jaques Wagner, e assim por diante. E continua mentindo nas entrevistas que dá, ora afirmando que nunca recebeu Marcelo Odebrecht no Alvorada, quando as agendas oficiais informam o contrário, ora se utilizando das delações de Sérgio Machado para anunciar que o golpe está provado, esquecendo-se de que já disse um dia que não respeita delator.
E, sobretudo, que esse delator específico ficou 13 anos no comando da Transpetro, uma subsidiária da Petrobras, fazendo toda sorte de falcatrua, com seu beneplácito. Por isso, como dizia Genoíno, uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. A volta de Dilma ao Palácio do Planalto continua tão difícil quanto sempre foi, pela simples razão de que ninguém na antiga base aliada tem saudades dela, ou da relação política com o PT.
Pode haver um ou outro senador querendo criar dificuldades para obter facilidades. Além do mais, não há nada que indique que Dilma mudou seu pensamento em relação aos erros que cometeu, e, portanto, ela definitivamente não é uma solução para os problemas do país.
Ao contrário, sua volta seria uma tragédia política de conseqüências inimagináveis. E até mesmo o PT, e especialmente Lula, não ganhariam nada com essa volta. Eles agora têm pelo menos um slogan, falso, mas que soa bem, para enfrentar a campanha municipal: “Não vai ter golpe”. Definitivamente, “Volta, Dilma”, não é eleitoralmente muito chamativo.