A maratona dos discursos durante o debate do impeachment proporcionou o corte de previsibilidade do que seria o seu desfecho. Avançou, de saída, a uma monotonia, no ritmo e no fraseado, tal como se nascidos num rigoroso ensaio. Na votação pró-impeachment, recados e solenidade, ao que, já nas sílabas, as primeiras palavras de um orador, hierático no seu pódio, todo numa declinação de dedicatórias enraizadas na referência familiar, no declínio dos nomes dos nascituros aos bisnetos. Depois, seguiu-se o testemunho de, senão a invocação a Deus, sobretudo na palavra dos deputados evangélicos. A tônica seria sempre a da "virada de página", marcando a votação do impeachment com a retórica continuada da procura de um novo Brasil. Tal poderia vir de par, inclusive, com o elogio ao Estado armado e à polícia, até mesmo aos votos patológicos de manutenção da ordem pelo recurso à tortura e de louvor ao coronel Ustra.
Não houve, nos votos pró-impeachment, referência à especial inserção histórica do momento, dentro do nosso processo de maturação democrática. Já toda a carga dos votos pró-Dilma fizeram remissão às ditaduras pregressas e à clara definição de golpe que revestiria um impeachment neste momento. Cruzava os dois discursos o repúdio à presidência da sessão por Eduardo Cunha, chegados até o desaforo de baixo calão, a fazer frente à imperturbabilidade do presidente da Câmara.
Mínimas, ao mesmo tempo, as ausências, tal como as abstenções de voto, limitadas às crises de consciência, confessadas pelos parlamentares, entre o comando partidário e a manifestação do voto.
O que se depara, talvez, num horizonte mais ambicioso do que as maiorias entenderam como "virada de página", é o que se vai sofrer com esse recurso acrítico ou viciado ao impeachment. Cada vez mais se delineia, nas insatisfações de parte a parte, esse, agora, inevitável clamor por eleições gerais, num repúdio, em soma simétrica, a Temer e Dilma.