Na semana passada, uma aluna da Sorbonne foi encarregada de fazer um estudo sobre a literatura latino-americana, mal informada de tudo, inclusive sobre a América Latina. Veio entrevistar algumas pessoas e, não sei por que, pediu-me que a recebesse para uma conversa que pudesse explicar o Brasil com apenas um título que serviria de roteiro para o trabalho que deveria apresentar.
Já me pediram coisas extravagantes, recusei algumas, aceitei outras. A moça era bonita, do tipo que geralmente definimos como "gostosa". Aleguei minha incompetência para titular qualquer coisa, confesso sem falsa modéstia, que pressionado por uma editora, cheguei a fazer um romance de 250 páginas em uma semana, mas levei uns três meses para dar-lhe um título que não me agradou nem agradou a ninguém.
No entanto, o romance saíra de minha cabeça, o que não era o caso do Brasil, por mais idiota que fosse, jamais faria qualquer coisa que definisse o nosso país. Mas não quis decepcionar a moça. Pensando na atual crise do governo com a oposição, sugeri "Garruchas e punhais" –era o nome da briga entre os meninos da rua Cabuçú contra os meninos da rua Lins de Vasconcelos. Morei nas duas e era considerado um espião a soldo de uma ou de outra. O que no fundo era verdade, considerava idiotas os dois lados.
A moça riu mas não gostou. Todos os países têm garruchas e punhais. Dei outra sugestão: "O mosteiro de tijolos de feltro". Ela não gostou –nem eu. Parti então para uma terceira via, por sinal, a mais estúpida. Pensou um pouco, inicialmente recusou. Olhou bem para mim e aprovou: "Uma noite no mar Cáspio". Para meu espanto, ela aceitou.
Acredito que os professores da Sorbonne também gostarão. E eu nem sei onde fica o mar Cáspio, embora também não saiba onde fica o Brasil.