O principal argumento que dona Dilma e a assanhada militância do PT, a começar pelo seu assanhadíssimo fundador, é que a Operação Lava Jato é um golpe, uma violência contra a Constituição, os bons costumes da nossa vida pública, um terceiro turno da última eleição presidencial.
Tanto o Brasil como a América Latina possuem razoável e eficiente know-how em matéria de golpes, cuja finalidade não é expulsar o governante, mas instalar uma ditadura a mais, na complicada história política desta parte do globo terrestre.
Sem entrar no mérito da questão (houve ou não crime de responsabilidade da presidente), a verdade é que até agora não tivemos o mínimo arranhão em nossa lei maior, apesar de algumas tentativas do governo e da oposição, com disfarçados apelos das vivandeiras de quartel que desejam tumultuar o trânsito das grandes cidades com os indesejáveis tanques em todas as esquinas.
Em 1964, durante a Guerra Fria sustentada pelo fator ideológico, as coordenadas do golpe instalaram no Brasil e em outros países da região ferozes ditaduras. Ninguém está recebendo o ouro de Moscou para fazer uma Sierra Maestra na doméstica Mantiqueira. Por falar em ouro, o problema é que muita gente, do governo e seus apaniguados, está recebendo em dólares e reais quantias com tantos zeros que não cabem nas máquinas de somar.
Não estão em jogo nossas tradições cristãs, mas a corrupção que, de uma forma ou outra, atinge, em escalas diferentes, os três Poderes da nação. Como falar em golpe quando a autoridade máxima em fazer cumprir a Constituição, da qual é o guardião, não está ameaçada de cassações? Como falar em golpe quando as instituições estão funcionando, o habeas corpus não foi abolido, o direito de defesa está mantido, a imprensa continua livre? Afinal, onde está o golpe?