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Solução final

 

Nunca foi tão fácil para o Brasil resolver todos os seus problemas. Passei o último domingo lendo nossos jornais e revistas e vi que a solução nunca esteve tão na cara como agora. Desde as Guerras Púnicas, quando Catão descobriu o inimigo de Roma e bradou, sem jornais e revistas, o diagnóstico correto ("Delenda Cartago"), que a história não criou condições para se descobrir o inimigo óbvio de um país e de um povo.

Ao contrário de Nelson Rodrigues, que de certo modo era um Catão emérito (ou seja, aposentado), nem toda a unanimidade é burra. Em alguns casos, além de não ser burra, é inteligente como um PhD de Harvard. Embora seja raro, sempre acontece quando as forças vivas da nacionalidade, as reservas morais da nação descobrem o câncer letal que corrói o país, levando-o à destruição total e definitiva.

Incompetência da presidente Dilma, ambição desvairada de um PT eternamente no poder, corrupção nos altos e baixos escalões da vida pública, inflação que sobe cada vez que o governo garante que ela não existe, a crise que atravessamos tem um treponema detectado e mortal: o deputado Eduardo Cunha.

Eliminando-o da presidência da Câmara no primeiro passo e da face da Terra no segundo, voltaremos ao paraíso terrestre sem serpentes, à era de ouro cantada por Ovídio, "materiam superabat opus" ("Metamorfoses", II, v. 5). Foi esta a conclusão a que cheguei após a leitura dos jornais e das revistas. Evidente que o deputado em questão, de acordo com o mantra antigo dos nossos avós, não é flor que se cheire. Além dos seus negócios na Suíça, mostrou-se tão chantagista como dona Dilma: se você faz isso, eu faço aquilo.

(Esta crônica cita Nelson Rodrigues, Catão, Ovídio, Guerras Púnicas, Suíça, Catargo e Harvard. Só me esqueci de citar os ossos de Dana de Teffé). 

Folha de São Paulo (RJ), 15/12/2015