Portuguese English French German Italian Russian Spanish
Início > Artigos > Argentina depois de Macri

Argentina depois de Macri

 

A vitória de Macri não representou uma virada de página na política argentina. O kirchnerismo não foi demolido, de saída, tendo em vista a diminuta diferença dos resultados nas urnas, com menos de 2% de vantagem da oposição. Mais ainda, a composição do Congresso inviabiliza, a não ser por amplas negociações, o que vem a ser a mudança anunciada por Macri. Já, desde agora, em seu crepúsculo, o presente governo consumou a votação de projetos de lei que criam uma muralha para a defesa do situacionismo que se encerra na entrada do mês. 

A vantagem de Macri faz-se, toda, do peso maciço do eleitorado da capital e da província de Buenos Aires. Mas é kirchnerista o resto do país e, mesmo, a própria periferia da capital. Por sua vez, na execução de suas políticas orçamentárias, a sinalizar a nova carga tecnocrática, o governo Macri pretende inovar, ao 
criar um regime rigorosamente de equipe, numa colegialidade decisória inédita no perfil da República. Vai-se a uma responsabilidade coletiva, fora de pró-homens, no fracasso ou êxito dos próximos meses. 

Na política externa, também, já se quer afirmar o contraste, com a condenação formal da Venezuela, confrontando toda a saga do bolivarismo, a entrar nos seus estertores. A interrogação básica sobre esse futuro é de se saber sobre o progresso da relação de Buenos Aires com Brasília no fortalecimento da visão clássica de uma América Latina atlântica. Estaria em causa um conceito obsoleto, a se falar de um isolamento portenho à perspectiva brasileira, que se desentranhou dessas condicionantes geocontinentais, na relação quasi assistencial com o Paraguai ou a Bolívia, buscando um novo espectro nessa cooperação internacional. É o caso do Brasil dos Brics, que avança, por sua vez, encarecendo nossa presença na África, seja na nova economia de Angola, sena na de Moçambique, em claro confronto com a China. Fica, de saída, nesse novo complexo, a posição conjunta do Brasil e da Argentina, na virada oceânica, em novo concerto no Pacto do Pacífico, com a superação dos velhos contrapontos de centro e periferia, a sobreviver como fantasma da globalização. 

O quadro que se abre, fora das confrontações geopolíticas, vai enfatizar, sobretudo, o pós-bolivarismo. Remata-o a importância crescente, hoje, da Colômbia, a, inclusive, superar a população argentina e mudar, de vez, os eixos da velha continentalidade, trazendo o Caribe para um protagonismo multifocal do nosso desenvolvimento.

Jornal do Commercio (RJ), 11/12/2015