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Ode aos puros

 

Estou sabendo que uma turma de cobras, em Paris, está chegando a um plano ou coisa que o valha sobre o clima na Terra, o meio ambiente e outros temas de nosso tempo.

Não sou selvagem em querer destruir a Mata Atlântica, devastar a Amazônia e derreter as geleiras dos polos sul e norte.

Uma de minhas filhas garante que os gastos com os meus havanas, desde os 20 anos, daria para ter um castelo na Espanha e ser mais rico do que a Arábia Saudita com todo o seu petróleo. Não é verdade.

Passei ano e meio em Cuba e me habituei aos havanas. Antes fumava mata-ratos nativos, from Bahia. No autoexílio, em Havana, me viciei nos "puros" de Pinar del Rio. Não tenho certeza se contribuí para o aumento do nível dos oceanos nem para a extinção dos ursos na Sibéria ou seja lá onde existam ursos.

Orgulho-me de ter ancestrais que não deram bola para a extinção dos animais: Churchill, Freud, Thomas Man, Getúlio Vargas, cardeais Leme e Eugênio Salles, Groucho Marx, Che Guevara, J. F. Kennedy, João do Rio, Al Capone, Hitchcock, Fidel Castro (charuteiro emérito porque está nas últimas), John Ford, um dos irmãos Wright –"et alibi plurimorum".

Houve tempo em que também fumava cachimbo e não fiz por menos. Stalin fumava "Capstan", comprei algumas latas em Londres, mas tive um espasmo na garganta logo que Kruschev divulgou seu relatório, denunciando o "pápuska" como um tirano. Consta que Jack, o Estripador, seja ele quem for, também era chegado aos charutos, por sinal um dos mais infames, feito com capim da Jamaica e ervas brabas de Honduras.

Não me interessa ter castelos na Espanha. Continuarei com os meus Partagas e El Rey del Mundo, sem esquecer os Cohibas. Hitler não fumava nada, era vegetariano. Mais uma razão para curtir os havanas e comer picanha nas boas casas do ramo.

Folha de São Paulo (RJ), 08/12/2015