Os próximos dias serão importantes para sabermos se caminhamos para uma mudança de atitudes, ou continuaremos a conviver com a leniência diante de escândalos que se repetem.
Na Câmara, a Comissão de Ética vai decidir no voto se o processo contra o presidente Eduardo Cunha prosseguirá, ou se o corporativismo continuará imperando. No Tribunal de Contas da União (TCU), os ministros terão que decidir se estão mais preocupados com suas relações pessoais, ou com a credibilidade do Tribunal diante da inacreditável candidatura à reeleição do presidente Aroldo Cedraz, que responde a uma sindicância interna por tráfico de influência de seu filho, o advogado Tiago Cedraz, e é ele mesmo investigado na Operação Lava-Jato.
Usando, como sempre, o poder do cargo que exerce para chantagear governo e oposição, Eduardo Cunha adiou mais uma vez a decisão sobre os pedidos de impeachment da presidente Dilma para aguardar como votarão os três representantes do PT na Comissão de Ética.
Por incrível que pareça, Cunha ainda tem força na Comissão, e se o PT ajudar pode se safar da investigação amanhã mesmo. Como a desfaçatez nunca é demais, seus apoiadores estão tentando resolver a questão negociando uma advertência por escrito como uma punição a Cunha.
Nos bastidores, Cunha deixa espalhar a idéia de que depende da atitude dos petistas sua disposição de acatar o pedido de impeachment da presidente. A pressão social sobre os três representantes do PT está grande, mas não é maior do que a pressão interna do partido, que quer um tratamento brando a Cunha em troca da não aceitação do impeachment.
Uma típica troca de favores que reina no Congresso em detrimento de decisões em favor da sociedade. Mas o Congresso historicamente sempre se mostrou muito sensível à pressão social, o que ficou evidente na votação sobre a prisão do senador Delcídio do Amaral.
Da mesma maneira que os senadores receberam emails e mensagens pelas mídias sociais, é previsível que os deputados membros da Comissão de Ética sejam pressionados pelos eleitores.
Com relação ao Tribunal de Contas, a mesma pressão está acontecendo contra a recondução à presidência do ministro Aroldo Cedraz. As associações de procuradores de contas, auditores e servidores dos tribunais de contas lançaram uma nota contra a sua reeleição, e o Procurador do Ministério Público de Contas Júlio Marcelo, em sua página no Facebook, lançou um libelo contra Cedraz, lembrando que o TCU precisa ter credibilidade para fazer seu trabalho.
Logo agora que o TCU cresceu às vistas da sociedade com o trabalho que fez sobre as pedaladas fiscais, a instituição, por puro corporativismo, tende a reconduzir à presidência um investigado na Lava-Jato. Também a ONG Contas Abertas divulgou um vídeo na internet com declarações contra a recondução de Cedraz de seu secretário-geral Gil Castello Branco.
O ministro está na mira de uma sindicância interna da Corte e de investigações da própria operação Lava Jato. Os comentários do Procurador Julio Marcelo foram compartilhados pelo juiz Sérgio Moro e pelo procurador chefe da força-tarefa da Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol. O Procurador Julio Marcelo ressalta em sua nota no Facebook que no âmbito da operação Lava Jato existe importante colaboração entre o TCU e o Ministério Público. E depende basicamente do Presidente do TCU dar apoio a essa colaboração, priorizando a Operação Lava-Jato, e colocando um número suficiente de auditores no trabalho de análise das provas compartilhadas.
De um total de 1.500 auditores de controle, apenas doze trabalham na Operação Lava-Jato em tempo integral, e isso por que alguns ministros reclamaram que apenas 6 estavam deslocados para a tarefa. Se o TCU afrontar a sociedade mantendo o presidente que é investigado, e claramente não dá prioridade à Operação Lava-Jato, estará sendo conivente com essa atitude e perderá a credibilidade diante da opinião pública.