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Luís Guimarães Júnior

               FORA DA BARRA

                                    Adeus! Adeus! Nas cerrações perdida
                                    Vejo-te apenas, Guanabara altiva...

                                             Varela – “Ao Rio de Janeiro”.

 

Já vamos longe... Os morros benfazejos
Metem na bruma os cimos alterosos...
Ventos da tarde, ventos lacrimosos,
Vós sois da Pátria os derradeiros beijos!

As alvas plagas, os profundos brejos,
Ficam além, além! Adeus, gostosos
Tormentos do passado! Adeus, oh gozos!
Adeus, oh velhos e infantis desejos!

Na fugitiva luz do sol poente
Vai se apagando - ao longe - tristemente
Do Corcovado a majestosa serra:

O mar parece todo um só gemido...
E eu mal sustenho o coração partido,
Oh terra de meus pais! Oh minha terra!

                                                                      1873.

 

    VISITA À CASA PATERNA

                                                 A minha irmã Isabel.

Como a ave que volta ao ninho antigo,
Depois de um longo e tenebroso inverno,
Eu quis também rever o lar paterno,
O meu primeiro e virginal abrigo.

Entrei. Um gênio carinhoso e amigo,
O fantasma talvez do amor materno,
Tomou-me as mãos, - olhou-me, grave e terno,
E, passo a passo, caminhou comigo.

Era esta sala... (Oh! se me lembro! e quanto!)
Em que da luz noturna à claridade,
Minhas irmãs e minha mãe... O pranto

Jorrou-me em ondas... Resistir quem há-de?
Uma ilusão gemia em cada canto,
Chorava em cada canto uma saudade.

                                                                     Rio - 1876.

 

       A VOZ DAS ÁRVORES

Enquanto os meus olhares flutuavam,
Seguindo os voos da erradia mente,
Sob a odorosa cúpula fremente
Dos bosques - onde os ventos sussurravam,

Ouvi falar. As árvores falavam:
A secular mangueira fielmente
Repetia-me a rir o idílio ardente
Que dois noivos, à tarde, lhe contavam;

A palmeira narrava-me a inocência
De um brando e mútuo amor, - sonho que veste
Dos loiros anos a feliz demência;

Ouvi o cedro, - o coqueiral agreste,
Mas, excedia a todas a eloquência
Duma que não falava: - era o cipreste.

 

          PAULO E VIRGÍNIA

Fomos um dia alegres, estouvados,
Ao clarão matinal do sol nascente,
Colher as flores do vergel ridente
E as primeiras amoras dos cercados.

Risonhos, venturosos, namorados,
Cada qual mais feliz e mais contente,
Esquecemos a terra inteiramente:
Doidos de amor, de gozo embriagados.

Seus cabelos - enquanto ela corria,
Voavam, loiros com a luz, dispersos!
Eu a chamava e ela me fugia.

Por fim voltamos - em prazer imersos:
E das venturas todas desse dia...
Resta a saudade que inspirou meus versos.