Nos anos 80, o IBGE quis suprimir o quesito relativo à cor do brasileiro. À primeira vista, pareceu uma atitude bacana: somos um país sem discriminação racial, existe até a Lei Afonso Arinos que pune como crime qualquer distinção entre pessoas com base na cor da pele.
O brasileiro, em princípio, não é racista, embora com exceções. Houve época em que a palavra negro podia ter sentido pejorativo, como a palavra judeu, que em muitos dicionários ainda significa outras coisas além do seu sentido óbvio de elemento pertencente à raça judia. Ora, os judeus têm justificado orgulho de se proclamarem judeus. Não gostam quando, por delicadeza cafona, os outros usam palavras como israelita ou semita.
Acredito que devemos saber como anda a nossa salada racial. Precisamos conhecer como estamos em matéria de religião, cultura e raça, para termos uma definição mais clara a nosso respeito.
Há generalidades que não são verdadeiras, como por exemplo, essa que dá o catolicismo romano como religião dominante do brasileiro. Neste departamento também somos mestiços –e bota mestiço nisso.
Quanto ao aspecto racial, somos vendidos como povo em que predomina a raça branca, quando na realidade somos uma mestiçagem que está na cara. Além do sangue negro e branco, temos outros ingredientes (índio, ariano, amarelo, semita, malaio) formando a salada racial que somos, incluindo alguns extraterrestres que às vezes retornam a seu estado gasoso.
Sou um branco que se parece com um cigano traficante de drogas e escravas brancas e tem uma amante chamada Rosária. Mas sou da mesma raça que o Brasil produziu: Machado de Assis, Aleijadinho, Padre José Mauricio, Pixinguinha e Pelé. Misturas finas de nosso caldeirão racial e cultural.