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A China de dois filhos

 

Depois de duas gerações, a China flexibiliza sua política demográfica e caminha no mesmo rumo do mundo ocidental, que, por motivos outros, também caminha para famílias de dois filhos. Na China foi por motivos demográficos, no Ocidente por motivos econômicos. A verdade é que alguns demógrafos consideram que, se a China não tivesse adotado essa política, teríamos uma explosão da população mundial de consequências imprevisíveis.

Entre nós, o Nordeste ainda mantém o segundo maior índice regional de filhos por família, mesmo assim abaixo da taxa de reposição da população. Apesar das famílias mais pobres não conhecerem nem terem acesso aos métodos de evitar a gravidez, o Brasil ocupa hoje uma posição de perda populacional, com uma taxa de fecundidade de 1,72. Isso significa que teremos graves problemas de demografia econômica, já que menos jovens chegarão ao mercado de trabalho e que eles terão que suportar uma maior responsabilidade previdenciária.

Em recente pesquisa feita na Europa, chegou-se à conclusão de que hoje as prioridades da mulher se modificaram. Em primeiro lugar elas buscam uma formação profissional; em segundo, uma preparação para ingressar no mercado de trabalho; depois, um emprego estável: só mais tarde elas pensam numa relação permanente, com o casamento ou a busca de um companheiro; até que finalmente pensam em ter filhos. Assim, hoje só depois dos 30 anos as mulheres tem filhos, o que faz com a idade da maternidade tenha crescido e muito, chegando em alguns países a 35 anos.

Também devemos levar em conta o problema cultural. Já houve tempo em que a Igreja católica fazia um grande esforço para combater o planejamento familiar. Mas hoje, ao contrário do passado, não acredito que ela ainda tenha um peso grande no comportamento das famílias, nem mesmo no Brasil. Um sinal disso é que a faixa de população onde a queda da taxa de fecundidade é mais acentuada é a dos que recebem a Bolsa-Família.

Na Índia, a família grande é sinal de status. O governo indiano fez uma campanha de controle demográfico e mandou fazer um cartaz, distribuído no país inteiro, no qual havia uma divisão na vertical, com duas situações: de um lado uma família tradicional hindu com uma casa de palha, filhos sem roupa e uns dez meninos; do outro uma família com apenas três filhos, todos bem vestidos, aspectos de boa alimentação, casa muito ajeitada. E uma mensagem subliminar – é melhor ter uma família pequena e de melhor qualidade de vida do que uma família grande com vida miserável.

A campanha foi um sucesso. Muita gente se aglomerando para ver o belo cartaz. O governo mandou pesquisar o que tanta gente pensava do outdoor. Resultado: 90% considerava: “Coitada da família que só tem três filhos, enquanto a outra tem dez.” A cultura é ter muitos filhos para ajudar a formar um grande clã.

Quando os ambientalistas falam comigo eu sempre digo: o primeiro dever do ambientalista é tratar do controle demográfico. Com o crescimento da população mundial, que já chega a quase sete e meio bilhões de pessoas, estamos no caminho para o esgotamento dos recursos de sobrevivência da humanidade. Lembremos de Lévi-Strauss: “O maior poluidor é o homem.”

Mas fui falar da necessidade de se parar de fazer filhos ao José Alves, vaqueiro de Curupu, e ele retrucou: “É doutor, mas aqui na beira da praia o único divertimento é esse!”

O Estado do Maranhão, 08/11/2015