As últimas semanas mostram o cansaço da política partidária e o crescimento de uma mobilização espontânea no comando das urnas. Os resultados argentinos acentuam o desengaste dos situacionismos, em busca, ao mesmo tempo, de uma identidade mais profunda para o desempenho político. O kirchnerismo foi descartado pelo fundamento peronista, numa competição entre os candidatos pela maior ortodoxia na fidelidade de fundo, mais do que por qualquer alinhamento imediato.
É o que repetem, também, os últimos eventos eleitorais de toda a América latina, nessa ruptura com o profissionalismo do poder. Aí está Jimmy Morales, na Guatemala, a marcar um comediante eleito presidente, no comando da frente política pela mudança radical. No mesmo padrão, o professor e intelectual Enrique Peñalosa vem de ser maciçamente eleito prefeito de Bogotá.
O que estaria em causa é o próprio princípio de representação na modernidade, possivelmente em nova etapa do que foi a crise de 1968. O novo século começou com o rompante do “povo na praça”, voltando às ágoras gregas dos primórdios da democracia.
O que deparamos, agora, é a saturação permanente do informe, ensejada pela nova sociedade virtual, no conhecimento instantâneo dos novos dados e tornando obsoleto o velho profissionalismo da conduta política. Da mesma forma, vira-se a página da rua como explosão do desagrado com a ação do Legislativo tradicional. Os montantes de apoio ou refugo se contabilizam, de imediato, nessa nova praça em que se constitui a internet – e a força dessa opinião pública emergente.
Urge a busca cívica da descontaminação partidária, tal como estão evidenciando os novos candidatos presidenciais americanos. E a surpresa, nos Estados Unidos, de um médico especialista em operações cerebrais a chegar ao favoritismo dos republicanos exemplifica essa procura do novo, diante da saturação das máquinas públicas e eleitorais.
Confrontamos, e de vez, a passagem da mobilização à rotina pública, no que a comunicação eletrônica sobrepõe-se ao que, na modernidade, nos deu a imprensa e a força do escrito, do panfleto e do jornal.