Portuguese English French German Italian Russian Spanish
Início > Artigos > À saúde de Henriquinho

À saúde de Henriquinho

 

Sugerem que eu não seja muito pessimista, deixando mensagem de esperança para a plateia. O pedido faz sentido, porque pessimismo é o que mais está sendo oferecido

Vocês devem ter lido anteontem a reportagem de Caio Barretto Briso sobre o menino Henrique, de 11 anos, com leucemia. A propósito, recebi de meu amigo Luiz Gravatá uma mensagem em que diz: “Henriquinho é filho de meu querido primo Raul e há dois anos luta contra uma terrível doença que hoje só tem uma esperança de cura: o transplante de medula. A partir de seus colegas de colégio, houve uma enorme mobilização para que pessoas se inscrevam no Hemorio e demais centros onde podem ser feitos os testes de doação. Henriquinho é um menino maravilhoso, estudante exemplar, muito querido por todos”.

A partir de uma foto dele na internet e a revelação de seu drama, surgiu um impressionante movimento de solidariedade, que está envolvendo milhares de anônimos e muitas celebridades. Luiz Gravatá lembra que Reynaldo Gianecchini, que se salvou graças a um transplante, é um dos apoiadores da campanha. No seu caso, a medula óssea foi do próprio corpo. Outros que já manifestaram seu apoio: Camila Amado, Carlinhos Lyra, Fernanda Montenegro, Francisco Cuoco, Fred, do Fluminense, Neymar e Sérgio Moro, o juiz. Moro enviou para Henrique um vídeo em que, ao lado da mulher, Rosângela, anuncia que vai se cadastrar como doador de medula, porque isso “pode salvar uma vida”. Termina com uma conclamação: “Força, Henrique, estamos torcendo por você”.

Como minha velha medula deve estar com o prazo de validade vencido para doação, resta lhe desejar sucesso e dizer, Henriquinho, que sua campanha vai ajudar também os cerca de 900 pacientes brasileiros que estão à procura de um doador compatível. Para ele, já foram encontrados dois voluntários, um no Brasil e outro no exterior. A compatibilidade de ambos ainda precisa ser testada. Se tudo der certo, faltarão apenas dois meses para o transplante.

OTIMISMO

Estarei hoje em Comandatuba, na Bahia, para uma palestra, e sugerem que eu não seja muito pessimista, deixando uma mensagem de esperança para a plateia. O pedido faz sentido, porque pessimismo é o que mais está sendo oferecido no mercado de produtos baratos. Porém, não corro esse perigo. Embora não esteja sendo fácil ver a vida com bons olhos (com trocadilho), sofro de otimismo, mas não o otimismo boboca (podem trocar os “os” pelos “as”). Costumo dizer que no meu DNA estava inscrito que eu seria careca e otimista. Quando vejo histórias como a da solidariedade ao Henriquinho, chego a esquecer, por exemplo, o que se passa em certa casa de tolerância de Brasília.

O Globo, 24/10/2015