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O tempo e a crônica

 

Recebo e-mails de leitores sempre que, usando este espaço dedicado à opinião, fujo da linha editorial e não dou opinião nenhuma, a não ser sobre mim mesmo ou sobrem temas que só a mim interessam. Já escrevi sobre a morte de Mila, minha setter dourada da qual ainda não me recuperei.

Estranhamente, esta crônica tão pessoal integra antologias e livros didáticos, é recitada em escolas e reuniões de mães de família, filatelistas e talvez funerárias. Não tenho nada com isso, a crônica em questão tentou expressar o sentimento do dia e da hora em que a escrevi.

A alternativa que me sugeriam era comentar a morte de PC Farias, o personagem mais importante no caso do impedimento de Collor. Entre Mila e o tesoureiro do ex-presidente, preferi Mila e acho que preferi bem.

No último domingo, escrevi sobre a caça das baleias assassinas, reminiscência de uma adaptação para jovens que fiz de Moby Dick, o grande clássico de Herman Melville, até hoje no catálogo da Ediouro, em edição de bolso.

Que tinha alternativas, tinha. E muitas. Todos os jornais e revistas se esbaldaram com a realidade, estavam cheios de Dilma, Eduardo Cunha, Temer, Lula, Joaquim Levy e até Neymar, que fez quatro gols para o Barcelona. Escrever sobre assuntos tão emocionantes seria redundante, em linhas gerais, repetiria em mau estilo e má informação o que escribas de maior valor estão escrevendo.

Ruy Castro sempre me esculhamba porque, tendo ou não tendo assunto, dou um jeito de escrever sobre as Guerras Púnicas.

Apesar de ser um grande amigo, com o rigor histórico que o fez famoso, sabendo tudo e até mais sobre a bossa nova, Nelson Rodrigues, Garrincha e Carmem Miranda, ele está desinformado. Só raramente escrevo sobre elas. Prefiro agora a Guerra do Peloponeso. Meu grande rival é Tucídides, não o Elio Gaspari. 

Folha de São Paulo (RJ), 20/10/2015