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Oriente x Ocidente

 

 O assunto é guerra. Alguma coisa está para acontecer, as coordenadas estão aí, prontas, esperando apenas a fagulha que pode ser casual ou proposital. Os países ocidentais, principalmente os chamados países em desenvolvimento (como o Brasil), jamais terão vez na atual distribuição de mercados e centros de poder.

O Japão, com enorme população, com avassaladora taxa de crescimento, com capacidade industrial das mais persistentes, não pode continuar, indefinidamente, ocupando uma ilha de Paquetá melhorada, um território pouco maior do que a Ilha do Governador. Promover movimentos de arrumação migratória (a ideia de mandar 2 milhões de japoneses para a Amazônia, por exemplo) não chega a ser solução: é confusão para ambos os lados.

A Europa Ocidental continua a se julgar protagonista da história. Em sua maioria sem o poderio da armas nucleares que lhe dê "status" de poder decisório, transformou-se num Estado-tampão. É possível a terceira guerra mundial que ninguém ganhará e todos perderão.

Sei também que, num conflito nuclear, mais de 400 milhões de pessoas morrerão nos primeiros dez minutos. E todos os demais habitantes da Terra sofrerão por muitos anos os efeitos retardatários da irradiação atômica. A vida humana nunca foi freio suficiente para travar a trajetória da humanidade. Há uma lei cega que nos impele, nações e indivíduos, à destruição para que, do estrume dos mortos, nasça o novo –que necessariamente não é o melhor, mas é o novo.

Diziam que "ex Oriente venit lux". Hoje, do Oriente vêm os emigrantes, que em busca do Ocidente morrem no Mediterrâneo. Repetindo Horácio: "Carpe diem quam minimum crédula postero". Entre os benefícios da hecatombe, um deles será varrer o latim do nosso passado e das minhas crônicas.

Folha de São Paulo (RJ), 22/09/2015