A derrubada e a prisão do, agora, ex-presidente da Guatemala Otto Perez Molina marcam, na América Central, ineditamente, o início da maturação democrática, de vez, na modernidade. Não tínhamos logrado, ainda, o repúdio, por unanimidade do parlamento, à corrupção governamental e à sua convivência, sem máscara, no cotidiano do sistema político. E é toda essa área do continente que nos pode mostrar o caminho a percorrer, e a partir da indistinção dos controles pelo Executivo, Judiciário e Legislativo. Não é outro o caso extremo de Honduras, em que a provisão de sentenças faz-se quase ad hoc, à conveniência da presidência de Juan Orlando Hernandez. E, na Nicarágua, tal vem do mesmo comando de sempre - de Daniel Ortega e da Frente Sandinista - até a vigência do Legislativo, tornando simbólico o exercício das oposições. O extremo nesse trato da coisa pública vai a El Salvador, em que o Estado se despedaça, e a "máfia" se instaura ostensivamente como contrapoder, na repartição do butim do sistema.
Vai, sim, o agora ex-presidente da Guatemala a essa aposta no adensamento das exigências democráticas. Teria podido se exilar, ao manter a série cansada e repetitiva de governantes corruptos, mas preferiu enfrentar o julgamento, no esquadro da lei.
O significativo, ao mesmo tempo, é que, aberta, a devassa atinja também a oposição e derrote o seu favoritismo nas urnas, com o enfraquecimento do candidato Manuel Baldizón. O despedaçamento da economia nacional, nestes últimos anos, levou a um regime de empresas e corporações ligadas fundamentalmente ao capital internacional. Nesse quadro trazido à opinião pública, a corrupção múltipla levou à vitória, no primeiro turno, de um comediante, Jimmy Morales, no impasse de maior comprometimento político.
Deparamos a generalização, no continente, da defesa do interesse público, frente ao poder intransitivo. E mais ecoa o exemplo destes dias do "basta!" brasileiro às nossas duas economias, na escala em que o escândalo da Petrobras mantinha o país da propina ao lado do Estado nacional.