Folha de São Paulo - (14.05.2005)
Luiz Fernando Vianna
Lygia Fagundes Telles, 82, foi escolhida ontem vencedora do Prêmio Camões 2005, o mais importante para autores de língua portuguesa. A autora de "As Meninas" receberá 100 mil (cerca de R$ 310 mil). A cerimônia de premiação será em Lisboa, provavelmente em 10 de junho.
A autora paulista foi escolhida por um júri formado pelos brasileiros Ivan Junqueira, presidente da Academia Brasileira de Letras, e Antonio Carlos Secchin, os portugueses Agustina Bessa-Luís (vencedora do ano passado) e Vasco Graça Moura, o angolano José Eduardo Agualusa e o cabo-verdiano Germano de Almeida.
Os jurados se reuniram na Biblioteca Nacional, no Rio, durante uma hora e 15 minutos até chegar à decisão. O prêmio, uma parceria dos governos brasileiro e português, é dado em razão do conjunto da obra.
Ela é o sétimo nome brasileiro a ser escolhido em 17 edições do prêmio. Já venceram o Camões o poeta João Cabral de Melo Neto (1990), Rachel de Queiroz (93), Jorge Amado (94), Antonio Candido (98), Autran Dourado (2000) e Rubem Fonseca (2003).
Entre os autores de outros países premiados estão os portugueses Miguel Torga (89) e José Saramago (95), o moçambicano José Craveirinha (91) e o angolano José Pepetela (97).
No Rio para participar da Bienal do Livro, Lygia Fagundes Telles se disse "muito emocionada e comovida" com o prêmio. "Preciso segurar para não chorar", comentou, ao falar com a Folha por telefone, logo após receber a notícia.
"Certa vez, eu achei que o prêmio [Camões] vinha para mim. Não veio. Mas os prêmios são como frutos: eles amadurecem e na hora certa caem nas nossas mãos", disse ela.
Uma vitória como essa lhe dá um estímulo para prosseguir escrevendo. "É como se eu estivesse no começo", emocionou-se. Ela pretende lançar neste ano um livro de crônicas e acabar um romance. "A personagem está montada no meu ombro querendo que eu acabe", brincou.
Carreira
Ela baliza o início de sua carreira com o romance "Ciranda de Pedra", de 1954, marco de sua maturidade, na opinião do crítico Antonio Candido. Mas, na verdade, já havia lançado antes os volumes de contos "Porão e Sobrado" (38) e "Praia Viva" (44).
"Eu não gosto de fazer sessões de autógrafos porque sempre aparece gente com esses livros. Não sei como ainda encontram. Não se lembrem desses, não leiam. Eu comecei cedo demais", contou ela, rindo.
Além de "Ciranda de Pedra", Lygia Fagundes Telles escreveu os romances "Verão no Aquário" (63), "As Meninas" (73) -trama que tem a ditadura militar como pano de fundo e está entre as maiores obras da literatura brasileira- e "As Horas Nuas" (89).
Entre seus volumes de contos, estão "Antes do Baile Verde" (70), "Seminário dos Ratos" (77), "A Estrutura da Bolha de Sabão" (78) e "Mistérios" (81). Boa parte de seus livros foi escrita em uma máquina de escrever comprada em Roma com seu ex-marido, o crítico de cinema Paulo Emílio Salles Gomes (1916-77).
Desafeta do computador, que uma vez "engoliu uma página linda" sua e não devolveu, ela não deverá gastar em novas tecnologias seu vultoso prêmio.
"Eu sou pobre. Poderia andar com uma placa: "Sou escritora", para não correr o risco de ser seqüestrada. Agora, talvez precise usar uma máscara", brincou.
14/06/2006 - Atualizada em 13/06/2006