É quase com resignação, e sem nenhum entusiasmo, que Lula se vê como candidato à sucessão presidencial em 2018. É um óbvio que ronda o futuro. E o que avulta é a devastadora ausência de novas lideranças, no desalento que se instaurou no partido como alternativa ao perene situacionismo brasileiro. É com desânimo que o ex-presidente defronta o partido nos mesmos erros e na vala comum de todas as legendas, no que parecia o arranco da mobilização política do proletariado brasileiro a partir do ABC.
De par, somam-se, nesse balanço melancólico, a falta inquietante de novas governanças estaduais e, principalmente, a pobreza da autocrítica, no que deveria ter sido a guarda e a defesa dessa diferença partidária. É sem revolta nem espanto que o petismo bate à campa da fatalidade da corrupção. Mas, sobretudo, não vai ao seu confronto - no que seria uma tomada de consciência - um corpo político que, pela primeira vez, não nascera em facções para o abocanhamento do poder da hora.
Não se trata só de atentar à absoluta pobreza da autocrítica, na falta de
aprofundamento da cansativa autoproclamação do partido diferente. Sobretudo, o que impressiona, no começo do terceiro mandato petista, é a falta de defesa da sua continuidade, senão, já, a crescente deslegitimação dos caminhos de Dilma. Ou, mais ainda, o desfazimento das alianças políticas, na quebra de solidariedade entre os clãs e subclãs do PMDB. Ou, mais ainda, na perda de condição arbitral que pudesse manter o vice-presidente da República, responsável pelos enlaces básicos do Planalto. Depara-se, mais ainda, o crescendo incontrolável da Operação Lava-Jato, a nivelar todas as facções na condenação pelo Judiciário. A reconfirmação de Janot equaliza, de vez, o futuro desses "perde e ganha" e desmonta, de vez, a visão de um oposicionismo ilibado diante da opinião pública. Nesses jogos de soma zero, ampliados, nos próximos meses, com a meticulosidade do procurador-geral, só restaria ao petismo o estrito fio da espera, para além do peso político do capital mitológico de Lula.