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Lygia Fagundes Telles vence Camões

 

O Globo - (14.05.2005)


Daniela Birman

 

Considerada a grande dama da literatura brasileira, a escritora Lygia Fagundes Telles é a vencedora do Prêmio Camões 2005, concedido pelos governos de Portugal e Brasil. O nome da contista e romancista paulista, autora dos clássicos “As meninas” e “Ciranda de pedra”, foi anunciado ontem na Biblioteca Nacional. Ela foi a segunda brasileira a ser agraciada com o Camões - a primeira foi Rachel de Queiroz, em 1993 - o mais importante prêmio literário da língua portuguesa, concedido pelo conjunto da obra e no valor de 100 mil euros.

A escritora, que está no Rio e participa amanhã de um Café Literário na 12 Bienal do Livro, disse ter ficado surpresa com a notícia. Aos 82 anos, Lygia já foi consagrada com diversos prêmios, como o Instituto Nacional do Livro e quatro Jabutis. Seu almoço de confraternização ontem contou até com a presença do retraído Rubem Fonseca, o último vencedor brasileiro do Camões, em 2003.

- A emoção é muito grande. A vida inteira eu me dediquei a esse ofício de escrever. Eu sou uma escritora do Terceiro Mundo, mas com a alegria de ter acreditado no meu sonho e cumprido a minha vocação - afirmou Lygia, que citou uma frase do filósofo Cioran para explicar o que sente. - Ele diz o seguinte: não quero a sabedoria da desilusão, eu quero a sabedoria da ilusão que é o sonho. Eu apostei nesse sonho.

Número de leitores da autora deverá ser ampliado

A escolha de Lygia e a solenidade de premiação em Portugal deverão ampliar o número de leitores da autora fora do Brasil. Na opinião do escritor e jornalista angolano José Eduardo Agualusa, o Camões ajudará a divulgar a obra da romancista e contista em Portugal e nos países africanos de língua portuguesa. Para ele, Lygia é um daqueles nomes indiscutíveis, e mais cedo ou mais tarde ela teria que ser a ganhadora.

O último africano a ser escolhido pelo Camões foi Pepetela, em 1997. Para Agualusa, está chegando a hora de um deles ser agraciado com o prêmio:

- Por todas as razões. Primeiro, porque há alguns nomes, até indiscutíveis também. E por razões políticas.

Agualusa integrou o júri do Camões ao lado do cabo-verdiano Germano de Almeida, dos brasileiros Ivan Junqueira e Antonio Carlos Secchin e dos portugueses Vasco Graça Moura e Agustina Bessa-Luís, a última ganhadora do Camões. Para Junqueira, que é presidente da Academia Brasileira de Letras (ABL), embora Lygia não seja uma autora de concessões ao público, é uma das escritoras mais lidas no Brasil nos últimos 50 anos.

14/06/2006 - Atualizada em 13/06/2006