Algumas vezes, é preciso mudar para que tudo continue o mesmo. Esta frase não é minha. É de Tomasi di Lampedusa, em "O Gattopardo", que, na versão de Luchino Visconti para o cinema, foi transformado em "O Leopardo".
Uma das obras primas do diretor de "Rocco e Seus Irmãos", tirante os exageros cênicos, tão copiados por Franco Zefirelli, que começou sua carreira como assistente de Visconti, bem como os cenários suntuosos e os figurinos deslumbrantes, o filme, como sempre acontece, é inferior ao romance, do qual temos excelente tradução de Marina Colasanti.
Em linhas gerais, o enredo se desenrola sob o agitado pano de fundo da anexação da Sicília à Itália, então dividida em reinos e províncias. Visconti não se limitou em contar a história da campanha de Garibaldi, o que transformaria o romance de Lampedusa num bangue-bangue tipo Hollywood. O filme ganhou um elenco formidável: Burt Lancaster (que sempre namorou o cinema italiano), Claudia Cardinale, Alain Delon, Serge Reggiani, Paolo Stoppa e outros cobras do cinema europeu. O filme ganhou a Palma de Ouro do Festival de Cannes de 1963.
O ponto principal é o plebiscito dos sicilianos que decidiram pela anexação da ilha ao reino de Vitório Emanuele, talvez o episódio mais importante da unificação da Itália.
O curioso é que a mudança em si não chegou a melhorar a ilha, que praticamente era de todos os povos mediterrâneos. De certo modo, a Sicília, com a mudança institucional, passou a ser feudo inicial da máfia, que logo se espalhou para os Estados Unidos, que nada tinham com a transformação da Sicília em Itália.
Fala-se em mudar dona Dilma. Mas enquanto o PT não mudar também, tudo continuará o mesmo.
Tomasi di Lampedusa tinha razão. O Brasil ainda não é a Sicilia, mas já tem a sua máfia em dinâmica atividade.