Bancos nunca perdem — nem quando a oferta de crédito é ampla nem quando o cenário é de crise como agora e eles continuam ganhando
Como dizia Millôr Fernandes, “na prática, a teoria é outra”. Por exemplo, não há em tese um banco que não queira o bem do país e até se disponha a sacrificar-se por isso. Outro dia mesmo, o presidente do Bradesco, que acaba de comprar o HSBC Brasil, deu uma longa entrevista aqui no jornal, analisando a crise e propondo soluções para que o país supere o dissenso entre os órgãos do governo e o Legislativo para avançar com as reformas e com a retomada do crescimento econômico.
Com as credenciais de quem chegou a ser cogitado, antes de Joaquim Levy, para ministro da Fazenda, Luiz Carlos Trabuco Cappi conclamou a sociedade a “encontrar os limites da convergência”. Segundo ele, problemas políticos “geram energia para provocar calor, e hoje o país precisa de energia para provocar luz”. “O que o sistema bancário mais deseja é que o país e a economia funcionem dentro de bases sustentáveis para construir o longo prazo”.
No dia seguinte, a teoria na prática. O jornal publicava o ranking do aumento das tarifas de seis dos nossos principais bancos, quantificando o que os clientes já sabiam há bastante tempo, mesmo sem conhecer os números. Em todos os estabelecimentos, os reajustes superavam em muito a inflação. À frente, disparado, numa posição pouco edificante, no topo da lista dos que mais aumentaram os custos de seus serviços, aparecia justamente o Bradesco, cujos preços cobrados subiram nada menos que 125,9%, enquanto a inflação do mesmo período medida pelo IPCA foi de 13% — uma diferença de 114,9%.
Disputando com ele, mas bem atrás, vinham Banco do Brasil (74,44%), Itaú Unibanco (48,64%), Caixa Econômica Federal (26,56%), Santander (17,7%) e HSBC (15,67%). Esses saltos foram observados entre março de 2014 e fevereiro de 2015. O valor da Cesta Exclusiva Fácil, do Bradesco, passou de R$ 27,40 em março do ano passado para R$ 48 e agora para R$ 61,90. As receitas com prestação de serviços somaram R$ 11,8 bilhões no primeiro semestre, o que significa uma alta de R$ 1.251 bilhão em relação ao mesmo período de 2014.
Não entendo de economia nem de lógica bancária, mas sei o quanto 125 é maior do que 13 e que desse jeito é difícil para o país “funcionar dentro de bases sustentáveis para construir o longo prazo”. Em suma, os bancos nunca perdem — nem quando a oferta de crédito é ampla nem quando o cenário é de crise como agora e eles continuam ganhando.