O Brasil está em crise. Há inflação novamente e a corrupção de sempre, propinas; há delações, algumas premiadas e outras sugeridas por quase todos os cidadãos. O povo está desesperado, chateado e temeroso de crises maiores.
Políticos de vários tamanhos e feitios articulam cavilosamente a derrubada do regime mas ninguém sabe exatamente o que vão decidir. Contudo a maioria conspira contra o regime pelo simples fato de conspirar.
Felizmente ninguém no Brasil liga muito para as crises, sejam políticas, econômicas ou cardíacas. Mesmo assim, o país acredita que vai em frente até que os generais depois de muito conspirarem, articulem botar as tropas nas ruas, que já estão cheias de gente que reclama quando pode ou não pode quebrar vidraças e ameaça assaltar bancos e os shoppings, queimar ônibus e mercados de hortigranjeiros.
Aliás, botar a tropa na rua é uma expressão às vezes figurada, às vezes não. É possível que a tropa saia à rua a favor de um ou de todos os lados ou contra todos os lados. A rigor, como os militares estão desmoralizados por golpes anteriores, quem costuma ir para a rua são a presidente da República, os ministros, os lobistas e os traficantes das muitas coisas que são proibidas no país.
O que torna emocionante as crises é justamente isso: contra quem ou a favor de quem as tropas sairão. A rigor a tropa não chega a sair, mas isso é coisa salutar. A nação prontamente se recupera da crise a fim de articular a próxima crise. As tropas têm de voltar correndo para os quartéis, do contrário podem ser apanhadas de surpresa por nova crise e aí ninguém entenderá mais nada e é possível que estoure uma revolução ou um golpe. Isso faz a nação atraente.
O grande perigo da situação é o fato de todos estarem do mesmo lado ou de nenhum.