Sem nunca falar em reformas e muito menos em revolução, Juscelino Kubitschek conseguira subverter as estruturas básicas da nação, através de seu Programa de Metas. Não mexera no estatuto do campo, não tocara na propriedade privada, não armara esquemas militares paralelos enfim, não se apoiara no tripé clássico de qualquer movimento reformista ou revolucionário.
Mesmo assim, promovera uma transformação no país, abrindo um mercado de trabalho inédito em nossa história, criando oportunidades para a mão de obra do brasileiro, até então limitada ao cabo da enxada.
Ele acreditava que dentro da normalidade institucional, executando uma reforma agrária racional, poderia criar uma realidade nova e surpreendente, tal como ocorrera no setor industrial. O pensamento agredia os clássicos da economia liberal e os teóricos do marxismo.
Para simplificar: os cientistas políticos acreditavam que JK praticava "uma política de adiamentos estratégicos", através de "uma aliança reacionária entre a burguesia comercial, a oligarquia rural e a classe média tradicional" (Hélio Jaguaribe).
Os teóricos tinham como verdade o fato de que tudo o que não fosse revolução era "adiamento estratégico" da reação. Em política ensinou Aristóteles, "affirmatio unius non est negatio alterius".
E o melhor exemplo foram as duas revoluções que passaram à história: o judaísmo atualizado pelo cristianismo, acrescido de elementos da cultura greco-romana; e a Reforma propriamente dita, que criou e estabilizou a sociedade moderna. Os movimentos classificados como revoluções (a francesa e a russa) sofreram restaurações de forma ou conteúdo. O que delas ficou como nova visão do mundo foram reformas que se incorporaram à história do homem.