Você conhece algum estabelecimento de ensino onde os professores adoram o que fazem e não têm do que se queixar? E mais: onde os alunos gostam de aprender? Eu conheci uma escola assim no Rio de Janeiro, em Jacarepaguá — justamente na semana em que mais de 200 professores saíram feridos por bombas e balas de borracha em Curitiba, durante duas horas de confronto com a PM. Em greve desde o último dia 25, eles protestavam contra a aprovação de um projeto do governo estadual. O sindicato da classe anunciou que vai processar criminalmente o governador Beto Richa e o secretário de Segurança “por conta dessa barbárie instalada por um cerco militar jamais visto aqui nessa praça”.
Diante dessa crise, que atinge outros estados, a experiência a que me referi foi tão animadora que me fez esquecer aquelas más notícias. Chama-se Escola Sesc, de nível médio, fundada há seis anos, um modelo de ensino integral para 500 alunos, que moram num campus de 130 mil metros quadrados, com teatro, biblioteca, ginásio coberto, piscina semiolímpica, sala de dança e ginástica. A Vila Acadêmica é composta por quatro prédios. Dois para alunos e dois para alunas. Em cada andar também reside um professor com sua família. Os demais membros do corpo docente ficam alojados na Vila dos Professores.
Cada mestre residente, isto é, de dedicação exclusiva, é orientador de um grupo de dez alunos, com os quais se reúne diariamente. Os estudantes têm uma rotina de dez horas de atividades diárias de diferentes disciplinas em salas de aula, com no máximo 15 alunos, e nos laboratórios, oficinas de arte, música, dança e teatro.
Mas o mais importante é o resultado dessas práticas pioneiras. Passei uma tarde lá, fiz uma palestra e fiquei impressionado com o entusiasmo das professoras com quem conversei. É como se cada uma fosse a autora do projeto. Hoje no Brasil é raro não ouvir dessa categoria profissional uma queixa ou reivindicação. Do outro lado, o dos alunos, o que me surpreendeu foi o nível de interesse e conhecimento de adolescentes entre 14 e 18 anos (são leitores de livros, acredite), vindos de várias partes do país e filhos de famílias com renda entre um e três salários-mínimos.
O que deixo de contar aqui por falta de espaço resumo assim: Quando baixar a crise de pessimismo com o que acontece com o nosso ensino, aquela sensação de “não tem jeito”, já sei o que fazer: eu vou pra Jacarepaguá. Não para a colônia, como na marchinha “Neurastênico”, mas para a escola-residência do Sesc.